Sargento homossexual e velhos hábitos dos gays estão em monólogo estrelado por Pedro Cardoso
Um revólver perdido no meio de uma suposta briga homofóbica – ou entre homens que não saem do armário - é o mote para Pedro Cardoso desfiar sua visão ácida e debochada sobre a ignorância e suas origens. “Os Ignorantes” interpretado por Cardoso desde 1998 permanece atual.
No inicio da peça o ator explica que a peça é a história de duas balas – uma delas perdida. Com música ao vivo, interação com a platéia e sem criar personagens, Cardoso expõe sua opinião calcada em estereótipos e com tamanha precisão que resvala na crítica social, mesmo que tenhamos a sensação que o ator esteja fazendo o que sabe de melhor: rir com suas caras e bocas.
A palavra – arma primordial do ator – desfere questionamentos para diversas questões do cotidiano. O garoto criado sem pai, que apronta com a sociedade que o oprime, uma mãe ausente que largou a família para ir atrás do seu sonho, um homem rendido a Deus, depois de passar boa parte de sua vida entre as drogas, pessoas que tratam animais como seres pensantes, deficientes físicos, homossexuais e alcoólatras, estão entre as "personas" expostas por Cardoso.
A graça da montagem está justamente no fato do ator ser ele mesmo e ao mesmo tempo o outro. Em alguns momentos não sabemos diferenciar quem está dizendo o que. Se “ele” o personagem ou o próprio ator, que aproveita e alfineta a platéia com suas tiradas rápidas e satíricas.
A homossexualidade não é tema da peça, mas está inclusa nela com muita propriedade e Cardoso faz um belo e engraçado retrato da qualidade de persuasão dos homossexuais. O ator traz um retrato caricatural dos hábitos de um sargento gay que pretende “comer” o soldado. Depois de uma esfrega na partida de futebol, o sargento dá uma carona para o soldado, que quando vê está na casa do sargento. Esta situação é mote para Cardoso desfiar uma série de piadas a cerca do poder de sedução dos gays.
Os clichês utilizados por Cardoso são permissíveis, (“veado é engraçado”, “invertebrado”, “veado está em qualquer lugar”). Porém o ator subverte os velhos hábitos dos gays em crítica social e o público reconhece a pertinência da crítica. Soa preconceituoso num primeiro momento, mas é inevitável não rir. Seria apenas mais uma cena engraçada, se não fosse de um dos militares a arma que desenrola toda a trama da peça.
É assim com todas as outras classes sociais e opções sexuais expostas no texto. Ou seja, todos estão no mesmo balaio da ignorância. São seres que não sabem ou não souberam agir de forma que os tornassem melhores ou que os dignificasse. Sem maniqueísmos, o texto escrito pelo ator, critica seus semelhantes, e os dignifica na mesma proporção. Um ótimo exemplo disso são as cenas em que a mãe está presente.
"O amor mais difícil de conquistar é o amor próprio" diz o ator em certo momento. Alguém duvida?
"Os Ignorantes" encerrou curta temporada em São Paulo no dia 31 de janeiro e prepara-se para seguir em turnê por algumas cidades brasileiras.
fonte: Mix Brasil
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