Com delicadeza, ele corta, costura, cola, arruma... Há dez anos no carnaval da Beija-Flor, Alex Marcondes, ou Nega, como é conhecido no barracão, não tem dúvidas de que está na profissão certa: seu talento para a folia está no sangue. Filho do intérprete Nego, atualmente na Mocidade, e sobrinho de Neguinho da Beija-Flor, Nega trabalha em um dos ateliês da escola, na confecção das alegorias.
— O carnaval mudou a minha vida. Sempre gostei de participar com a minha mãe, mas minha paixão é mesmo pelos bastidores — conta.
Criado em Nilópolis, a Beija-Flor entrou na sua história naturalmente, sem pressões familiares:
— Mas tenho um carinho especial pelas escolas por onde meu pai passou.
Maquiagem para noite
A oportunidade de trabalhar no barracão veio através de um convite do tio e do diretor de harmonia da escola, Laíla. Ao contrário da maioria dos colegas, Nega não é contratado apenas para a época dos desfiles. Durante o ano inteiro — com um intervalo de apenas 15 dias após a esperada noite na Marquês de Sapucaí — ele passa 12 horas, de segunda à sexta-feira, na agremiação.
Mas é nas horas livres, especialmente à noite, quando gosta de ir para a balada, que Nega exercita todos os seus dotes artísticos. Troca a tesoura, a agulha e a pistola de cola quente por delineador, batom e blush... Traça sobrancelhas curvas, acentua o volume dos lábios e capricha no brilho. A maquiagem de drag queen faz sucesso entre os amigos e não encontrou empecilhos na família.
— Meu pai sabe que sou gay e não tenho problemas com isso. Adoro me montar e me sinto como mulher — revela.
Animadíssimo para o desfile deste ano, Nega já tem uma alegoria preferida: o sétimo carro da Beija-Flor, uma referência aos show de Roberto Carlos em cruzeiros marítimos.
— A escola está linda e vem pra ganhar — arrisca.
Querido no barracão
No barracão da escola, a relação de Alex com seus colegas de trabalho não poderia ser melhor.
— É muito fácil conviver com ele. É sempre animado, extrovertido e tem um ótimo coração — derrete-se a artesã Cláudia do Carmo, que se refere ao amigo como "rainha" e "diva".
Nega vê a Beija-Flor como uma família e diz não sofrer preconceitos por sua orientação sexual. Sua única queixa é não poder acompanhar o grito de guerra do tio na hora em que a escola entra na Avenida.
— Fico até arrepiado só de lembrar. Ouço de longe, porque tenho que acertar os últimos detalhes das alegorias — afirma, confessando em seguida que corre para desfilar assim que é liberado pelos chefes: — Isso aqui é minha vida.
fonte: Extra
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