domingo, 19 de setembro de 2010

Falta de estado laico impede a aprovação de projetos sobre direitos da população LGBT no poder legislativo, avaliam ativistas

Militantes foram convidados do evento "Diverisdade em Destaque" que acontece até este domingo no CCBB em São Paulo

Preconceito e impunidade foram os dois conceitos mais usados por ativistas na série de debates “Diversidade em Destaque”, no Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo. Eles conversaram com o público sobre a dificuldade de a população LGBT brasileira ser respeitada pela sociedade. “Enquanto existirem os xingamentos de ‘viado’ e outras ofensas sem punição, nós não seremos respeitados e felizes”, disse a militante e artista transexual Claudia Wonder.

Em 2009, a Fundação Perseu Abramo divulgou o resultado de uma pesquisa com mais de duas mil pessoas no País. Pelo menos 92% dos entrevistados reconheceram que existe preconceito contra homossexuais no Brasil e 28% disseram que já praticaram a discriminação. Este índice é acima de outras pesquisas sobre preconceito racial ou contra idosos. Os dados foram relembrados hoje pela antropóloga e pesquisadora da Unicamp Regina Fachini. “Não significa que menos gente tem preconceito contra negros ou idosos, isso só é menos admitido. Não é o que acontece contra os homossexuais, tem gente que tem orgulho de dizer que tem preconceito”, comentou.

O médico infectologista Ricardo Tapajós, da Divisão Clínica de Doenças Infecciosas da Faculdade de Medicina da USP, foi alvo recente de preconceito. Em união estável há cerca de cinco anos, ele tentou incluir o parceiro dele como sócio no Clube Paulistano, mas teve o pedido negado. “Alegaram que o estatuto não prevê a inclusão de parceiros gays, então não iriam aceitar minha reivindicação”, explicou. O caso ganhou destaque na mídia e, segundo Tapajós, os comentários sobre o assunto na internet foram diversos: elogios, desconhecimento sobre diversidade sexual, ignorância, entre outros.

Uma integrante da plateia no CCBB questionou se o fato de ser homossexual era uma opção ou não para um indivíduo. “A gente não escolhe de quem gosta, mas só determina o modo como vai agir diante da situação perante a sociedade”, disse Tapajós.

O presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, Alexandre Santos, é um homem transexual. Por conta disso, já foi estuprado e apanhou na rua. “Tive que ouvir de um policial que eu atraio este tipo de problema na minha vida”, contou. Para ele, a falta de uma lei para criminalizar atos de preconceito contra homossexuais é um fator que ajuda na disseminação do preconceito, pois os responsáveis não são punidos.

Os ativistas Alexandre Santos e Claudia Wonder afirmaram que o Estado não é laico porque ainda não consegue aprovar leis que garantam direitos civis e a punição contra o preconceito. “Infelizmente, no poder Legislativo, as bancadas e até os militantes religiosos são mais organizados do que nós e impedem direitos como estes”, concluiu Claudia.

O evento “Diversidade em Destaque” termina neste domingo com um debate sobre diversidade racial. A mediadora e curadora da atividade é a jornalista e editora executiva da Agência de Notícias da Aids, Roseli Tardelli.

fonte: Agência de Notícias da Aids

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