No terceiro dia de existência, o governo do primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, foi criticado por ativistas, imprensa e até mesmo por seus novos parceiros de coalizão --o Partido Liberal-Democrata-- nesta sexta-feira por formar um gabinete praticamente só com homens brancos e de classe alta.
Tanto Cameron quanto seu vice, o liberal-democrata Nick Clegg, cresceram em famílias abastadas e frequentaram escolas de elite.
Dos 23 membros do gabinete que eles formaram, após criarem um governo de coalizão esta semana, 22 são brancos e ao menos 16 estudaram nas universidades de Oxford e Cambridge.
O gabinete tem como mérito incluir a primeira mulher muçulmana britânica, Sayeed Warsi --que foi nomeada secretária de Estado, mas ainda não se sabe do que.
No total, são apenas quatro mulheres, todas conservadoras --e apenas uma com cargo de destaque. Caroline Spelman é titular de Ambiente e Cheryl Gillan é secretária do País de Gales.
O destaque fica por conta de Thereza May, a mais alta figura feminina no Partido Conservador, agora nova secretária de Interior e ministra de Igualdade. Porém, sua indicação foi questionada por alguns ativistas dos direitos gays.
Apesar de elogiada como uma modernizadora do Partido Conservador, May votou contra igualar a idade para consenso sexual para gays e heterossexuais em 1998, e em 2002 ela votou contra permitir a adoção de crianças por casais gays. Por outro lado, ela votou a favor de uniões civis.
Falsas expectativas
Cameron vinha tentando livrar os conservadores da imagem de um pequeno clube para aristocratas hostis a minorias e indeferentes aos pobres, um "old boys club" --grupo de homens ricos e com poder político. Ele vinha incluindo mais candidatos de minoria e tinha prometido em sua campanha que um terço dos altos cargos do governo iriam para mulheres.
A participação do partido esquerdista Liberal-Democrata na coalizão também tinha criado expectativas de um governo mais diversificado --que não se concretizaram.
Analistas dizem que os esforços de Cameron para aumentar a diversidade no alto escalão do partido recrutando mulheres candidatas não funcionou porque as novas recrutadas ainda não tem experiência o bastante.
"Cameron --e Clegg-- estavam bastante cientes de que tinham poucas mulheres em quem poderiam realmente se apoiar", disse Colin Hay, professor de política na Universidade de Sheffield. "A política do passado discriminava as mulheres. A ironia, de certa forma, é que o gabinete permanece uma forma de último bastião daquela velha ordem."
Críticas
"Vagas no gabinete para companheiros de escola abastados", brincou o tabloide "Daily Mirror". "Um grande passo para trás", escreveram ativistas em uma carta ao jornal "The Times". "Lotado de camaradas, bajulação e piadas internas", escreveu um colunista ao jornal "The Guardian".
Programas de rádios foram inundados com reclamações sobre a falta de mulheres e minorias no alto escalão do poder.
"Quando você olha para o time de negociadores, eles são homens e pálidos", disse à BBC o parlamentar liberal-democrata Lynne Featherstone, referindo-se aos alto líderes dos dois partidos que se uniram na coalizão. "Temos que fazer algo melhor."
Exemplos
Outros países da Europa tem maior igualdade de gênero no alto escalão. Cerca de metade dos gabinetes da Noruega e da Suécia são compostos por mulheres, e a Alemanha tem seis mulheres em um gabinete de 16 membros. Seis dos 13 alto ministros da Áustria são mulheres. Na Suíça, as mulheres não chegam a um terço do Parlamento, mas dentro do gabinete são três mulheres e quatro homens.
O ex-premiê britânico Tony Blair, do Partido Trabalhista, tinha seis mulheres em seu gabinete de 2005. Gordon Brown, que renunciou na semana passada, tinha cinco mulheres em sua equipe.
"O número [de mulheres no governo] certamente caiu, e também a importância dos cargos que elas ocupam", disse Margaret Beckett, que foi secretária de Relações Exteriores no governo Blair. "A retórica [de Cameron] foi de que precisamos trazer mais mulheres para dentro do governo, mas as decisões não foram de acordo."
Cerca de 8% da população britânica é composta por minorias, sendo indianos o maior grupo, seguido por paquistaneses.
fonte: Folha Online
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