O imigrante brasileiro Rômulo Castro, 34 anos, pensou em comparecer à sua audiência de asilo em Rosedale, Queens (NY), vestido de “Fidela Castro”, um travesti trajando sapatos altos, saia verde clara e peruca cor de morango. No final, Castro optou pelo o que ele considera discrição: sombra cor de rosa nos olhos, blusa gola V cor de rosa e muitas lágrimas, segundo o diário The New York Times.
Anos após tentar esconder sua preferência sexual no Brasil, onde “Fidela” nunca apareceu publicamente, Castro foi instruído por seu advogado de imigração que “assumir” era sua melhor arma contra a deportação.
“Eu fui perseguido por ser afeminado, gordo, bicha; sentia-me como um monstro”, disse Rômulo, que alegou ter sido estuprado aos 12 anos de idade por um tio, abusado sexualmente por 2 policiais e agredido por desconhecidos antes de buscar refúgio nos Estados Unidos em 2000. “Aqui, ser homossexual foi a minha salvação. Então, soube que tinha que realizar o melhor papel da minha vida”.
Em meio a protestos gerados por artigos sobre a República Tcheca que realiza “testes de veracidade” em solicitantes de asilo ao instalar monitores em seus órgãos sexuais que alertam ereções quando eles assistem filmes pornográficos; alguns refugiados homossexuais e seus defensores em New York denunciam que eles não podem ser penalizados por não “demonstrarem” sua homossexualidade. Apesar de os solicitantes de asilo e grupos de defesa dos direitos civis expressarem alívio que o “detector de mentiras erótico” seja quase impossível de existir nos EUA, alguns lamentaram em entrevistas recentes que aqui também, os homossexuais que buscam asilo correm o risco de não serem considerados “homossexuais o suficiente”.
A noção de “homossexual o suficiente” ou provar a sexualidade de alguém através da aparência, trajes e gestos pode ser ofensivo. Além disso, a crescente moda andrógena e a tendência social conhecida como “metro sexualidade” diluiu as barreiras de identidade na mente das pessoas.
“Juízes e agentes de imigração estão criando novos quesitos nos casos de asilo solicitados por homossexuais em que a homossexualidade dos solicitantes deve ser socialmente visível”, disse Lori Adams, advogada do Human Rights First, um grupo sem fins lucrativos que aconselha pessoas que buscam asilo baseados na sexualidade. “A lógica é que, se você não parece obviamente gay, você pode voltar para casa e esconder a sua sexualidade e, então, não precisa se preocupar em ser perseguido”.
O Departamento de Serviços de Imigração & Cidadania recebeu 38 mil aplicações de asilo entre outubro de 2009 e setembro de 2010, entretanto, o órgão não especifica quantas delas foram apresentadas por gays ou lésbicas. As pessoas qualificam para silo se conseguir provar perseguições passadas ou medo fundamentado de perseguições futuras baseado na pertinência a um determinado grupo social; em 1994, a lei foi ampliada para incluir especificamente os homossexuais.
Os imigrantes ilegais que buscam asilo são entrevistados por agentes de imigração, que podem aprovar suas aplicações ou encaminhá-los a um juiz de imigração. Os solicitantes homossexuais devem apresentar evidências de sua orientação sexual e o risco de perseguição, como declarações de parceiros ou relatórios médico e policial de abusos. Entretanto, especialistas alertam para a dificuldade de provar em lugares como a Arábia Saudita ou Irã, onde a homossexualidade é passível de morte e, por isso, é perigoso para gays denunciarem qualquer caso de abuso ou países conservadores no Ocidente que não toleram a homossexualidade.
Ativistas alertaram que a situação piorou em virtude da crise econômica e alto nível de desemprego, citando ressentimento contra os imigrantes e o desespero de alguns estrangeiros heterossexuais que fingem ser homossexuais na esperança de conseguir asilo.
Castro, filho de oficial das Forças Armadas e criado em uma família católica praticante, disse que foi alertado por advogados de imigração em New York e Washington para sequer aplicar para asilo, pois ele era natural do Brasil, país que conquistou a reputação de abrigar desfiles gays, Carnaval e travestis.
Em 1999, Castro foi abordado por 2 policiais depois de deixar um clube noturno gay em São Luís, Maranhão, segundo a sua aplicação de asilo. Ele disse que os policiais o forçaram a fazer sexo oral. Quando ele começou a chorar, um dos policiais mostrou-lhe um pacote com cocaína e o ameaçou de prisão.
Deprimido e desiludido, Castro disse que pensou em ser padre e rezava todos os dias, além de tentar namorar moças. Um ano depois, ele decidiu viver nos Estados Unidos. Ele obteve um visto de turista, o qual venceu há 8 anos. Ano passado, o brasileiro, agora um terapeuta em massagens residente em Jackson Heights (NY), decidiu aplicar para asilo, pois não queria viver sob o medo da deportação. No dia de sua entrevista em 2009, ele disse que tremia. “Eu pensei, eles nunca vão me deixar ficar”, comentou. “Eu chorei”.
Castro disse que a princípio o agente da imigração parecia intimidador. “Eu achei que estava perdido”, comentou.
Ele apresentou uma declaração de seu irmão mais velho implorando aos Estados Unidos que mantivesse Rômulo “longe de nós para sempre”, para evitar que ele envergonhasse a família. Ele também apresentou uma carta de seu psiquiatra confirmando que ele tomava antidepressantes contra stress pós-traumático provocado pelo abuso vivenciado com os policiais. Além disso, Castro apresentou um dossiê grosso repleto de artigos detalhando episódios de perseguições aos gays no Brasil.
Em junho de 2009, ele conseguiu asilo. Castro recebeu o Green Card (Residência permanente) no verão passado.
fonte: Cena G
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