Desde que revelou estar com câncer de mama e decidiu chamar a atenção para a importância dos exames preventivos, Martina Navratilova tem cumprido uma série de compromissos. Na semana passada, teve cinco dias agitados, dando várias entrevistas, fazendo diversas viagens de avião e perdendo horas de sono.
"Quero salvar vidas, dizendo às mulheres para fazerem o exame e que estejam vigilantes, mas há um custo para mim. Na semana que passou, dei 20 entrevistas em sequência e na noite seguinte, ao ir jogar tênis, estava exausta. Emocionalmente, não fisicamente", contou à jornalista Julie Bindel, do jornal britânico The Guardian. "Preciso me dosar, não quero que a doença volte por estar estressada. De vez em quando, as coisas saem de controle, como nesta semana, mas logo vou tirar uns dias de férias."
A lendária tenista está em Londres para mais um compromisso, mas desta vez, nada a ver com sua saúde. Lésbica assumida, Navratilova foi à Inglaterra como convidada da entidade Stonewall, que defende os direitos gays. Na última quarta-feira, discursou no jantar e leilão anual da organização. O tema deste ano foi a homofobia no esporte.
"Raramente ocorre às pessoas que esportistas (homens) são gays, mas com as mulheres, elas quase têm de provar que são hetero", diz. Um jornalista nunca ousaria perguntar a um atleta homem, exceto se fosse patinador artístico, se ele é gay. Mas é OK perguntar a uma tenista", afirma, com conhecimento de causa.
Para mudar este panorama, diz que a mudança tem de vir de cima. "Não se permite antissemitismo ou racismo vindo das arquibancadas e não se deveria permitir ofensas homofóbicas. Mas parece que há tolerância zero para o resto e 95% de tolerância com coisas contra os gays."
A nove vezes campeã de Wimbledon admitiu ser homossexual em 1981, tornando-se um exemplo para as lésbicas da época. A cidadã americana e tcheca tem consciência da responsabilidade. "Sou um modelo para as jovens e para o tênis. Mas então faço algo que a imprensa destaca e os heteros dizem 'Oh, é assim que essas sapatonas são.'"
A ganhadora de 167 títulos de simples na carreira profissional, perguntada se há alguma jogadora de ponta no armário, garante: "Não há lésbicas entre as dez primeiras. Mas onde estão os gays? Quero dizer-lhes que isso não vai machucá-los. Ninguém vai impedi-los de jogar. Se você é bom, vai jogar.'" Mas, ao mesmo tempo, reconhece que tomar a atitude de sair do armário não é fácil. "Se tenho uma namorada, não quero que o mundo saiba. Vou apresentá-la aos amigos e à família e ver o que acontece. Não é que esteja escondendo." Também não é fácil ter uma amiga hetero. "Tenho uma amiga em Aspen, com quem saí em público algumas vezes. Eu a avisei: Esteja preparada, as pessoas vão comentar.'" A jornalista pergunta se Navratilova está envolvida com alguém e, pela primeira vez na entrevista, Martina se mostra tímida. "Mais ou menos."
Uma das poucas a se abrir no mundo dos esportes, Navratilova reluta em criticar as escolhas de outras pessoas e não admite cobranças quanto a levar ou não a bandeira do movimento gay. Citando a atriz, comediante e apresentadora Ellen DeGeneres, que se revelou em 1997, criticada por alguns grupos por não ter feito nada mais, exceto revelar sua condição. "O que esperavam? Ela não deve nada a ninguém. Fiquem felizes por ela ter se revelado quando muitos não o fizeram. Isso é bravura e isso basta."
Feminina declarada, Navratilova não entende como uma mulher não possa ser feminista. "Se uma mulher diz que não é, pergunto: então, você quer receber 70% do que os homens ganham pelo mesmo trabalho? Elas dizem que não e lhes digo, então, que são feministas. Feminismo é sobre direitos iguais, nada mais." Sobre o que a tornou uma pessoa política, Martina conta que sempre desdenhou autoridade e regras estúpidas. "Sempre questiono a autoridade. Sempre questionei e sempre vou questionar."
fonte: Tenis Brasil
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