sábado, 26 de dezembro de 2009

Ativistas paulistas criticam gestão de aids nos níveis municipal, estadual e federal

logoAA A luta contra aids não existiu. O tratamento no Brasil é mesmo universal, diante do alto índice de diagnóstico tardio? Estes foram alguns pontos destacados por ativistas paulistas sobre o que foi o ano de 2009 na luta contra a aids para a Agência de Notícias da Aids. As críticas, escritas por e-mail, são dos militantes José Araújo Lima e Mário Scheffer que lembraram ainda do Enong (Encontro Nacional de ONGs/Aids) ocorrido em novembro no Rio de Janeiro. Veja a seguir na íntegra os questionamentos e acompanhe amanhã a segunda parte.

2009, o ano que não aconteceu – José Araújo Lima – ONG Espaço de Prevenção e Assistência Humanizada

Minha opinião pode ser equivocada para a maioria, mas ela é sincera. No ano de 2009, a luta contra aids não existiu ou muito pouco aconteceu.

Nas três esferas de governos parece que todos jogaram para cumprir tabela. Vejamos:

A única novidade no âmbito federal foi a mudança de Programa para Departamento – e também as hepatites virais somadas com às DSTs. A outra foi a campanha de 1º de dezembro, do casal sorodiscordante, que na minha opinião, cheia de conflitos de interesses. É muito boa e pertinente para o público destinado, mas por outro lado lamentavelmente tivemos uma grande mobilização de pessoas e custos financeiros para que o artista Vik Muniz ficasse em paz com sua consciência com um spot que nada veio a acrescentar na luta contra o preconceito;

No estado de São Paulo, o Programa Estadual de DST/Aids continua com as mesmas respostas para as mesmas perguntas e nada de avanço aconteceu, o que é muito triste. Afinal, sempre foi um Programa pioneiro;

Na cidade de São Paulo, o Programa Municipal de DST/Aids, dentro da atual política, trabalha de forma isolada de grande parte das coordenadorias regionais, que não são ouvidas em decisões consideradas importantes para as pessoas vivendo com HIV/AIDS;

No ativismo nacional a história não foi diferente, nada aconteceu nas ruas. Tivemos três manifestações que reuniram cerca de 200 pessoas, cada uma, sendo duas em São Paulo e uma no Rio durante o Enong. Em outros estados, caso tenham ocorrido, não tiveram a repercussão merecida, nem mesmo nas redes virtuais;

Os encontros estaduais, regionais e nacional cumpriram também tabelas. Muitos acreditam que esses espaços com o modelo usado são importantes. Não consigo observar a importância deles, além dos debates, as vezes muito ricos, mas que têm um fim nas votações realizadas – ou seja, a falsa sensação de dever cumprido;

Falando em redes virtuais, essas sim estiveram em grande ebulição, mas o que deveria ser uma ferramenta de ação simplesmente serviu para manter alguns indivíduos com uma falsa visibilidade de ativismo;

O ano de 2009 não aconteceu. Afinal, tivemos perdas por todo o País de pessoas que vivem com aids e uma política pública com melhora de qualidade não foi oferecida pelo estado e nem cobrada pelo movimento. A única ação sobre as mortes surgiu novamente sob forma de notas oficiais ou mais uma vez e-mails e mais e-mails... Triste ano que não existiu.

Mário Scheffer, Presidente do Grupo Pela Vida-SP

Penso que 2009 termina como um ano de perguntas incômodas. O tratamento no Brasil é mesmo universal, diante do alto índice de diagnóstico tardio? É correto divulgar com tanto destaque a tese da "interiorização" da aids, escamoteando outras tendências da epidemia? Por que mais de 30 pessoas ainda morrem de aids todos os dias no país? Os problemas na assistência às pessoas com HIV denunciados no Rio de Janeiro e Porto Alegre são pontuais ou essa é a ponta do iceberg? O que levou os planos de enfrentamento da aids entre homossexuais a se transformarem em peças de ficção? Espero que em 2010 o ativismo volte a ser independente, para dar conta dessas e de tantas outras questões sem respostas.

fonte: Agência de Notícias da Aids

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