quarta-feira, 15 de maio de 2013

Mato Grosso: Universitário funda a primeira igreja para gays do Estado

Estudante de teologia e letras reúne grupo de homossexuais em Cuiabá. Ele disse que se sentia desamparado e discriminado nas outras igrejas.

Cesar LoyolaHá três meses, o estudante de teologia e letras, Cesar Loyola, de 23 anos, fundou a primeira Igreja da Comunidade Metropolitana (ICM) em Mato Grosso. Até agora ele atraiu 13 membros, todos homossexuais, para a instituição que prega parte do evangelho cristão, principalmente para o público LGBT. Ele contou que a ideia de abrir a igreja no estado surgiu porque se sentia sem amparo religioso e discriminado nas outras igrejas por ser homossexual. Na igreja, tudo é permitido, desde que não fira o próximo, conforme o 'pastor leigo'.

“Fui em várias igrejas de Cuiabáx e não me encontrava, não me sentia bem, me sentia discriminado mesmo. E eles têm aquele discurso de 'nós aceitamos o pecador, mas não pecado', mas isso é hipocrisia porque na verdade eles não amam nenhum dos dois. Querem que se encaixem nas 'caixinhas' deles e eu não me encaixava”, afirmou o pastor leigo, como é chamado, já que ainda não concluiu o curso de teologia mas já é lider da igreja.

Cesar Loyola contou ter participado dessa igreja por dois anos e a relação de amor ao próximo pregada o atraiu. Após se mudar para Cuiabá, conversou com o responsável pela Comunidade Metropolitana no Brasil e recebeu autorização para dar início ao processo de implantação da igreja na capital mato-grossense.

O universitário, que havia participado dessa mesma igreja no período em que morou em São Paulo, vinha realizando encontros desde o ano passado na tentativa de formar grupo, porém, tinha dificuldade de atrair adeptos, já que, na avaliação dele, há preconceito por parte dos próprios gays. "O preconceito se dá porque há anos existe esse discurso de que eles são condenados, que os gays vão para o inferno, que têm que mudar, têm que se curar, então eles criaram uma barreira", afirmou a reportagem.

Os cultos seguem as premissas cristãs e alguns trechos da bíblia. “Nós temos a bíblia como um livro de orientação mesmo. Não seguimos a bíblia integralmente, ao pé da letra, porque a gente entende que corremos uma série de riscos. Hoje, os gays são acusados de pertencer ao demônio e de pecadores por causa dessa interpretação literal da bíblia”, analisou o líder da igreja, ao enfatizar que a ICM se apresenta como uma orientação e não como um manual de regras, onde tudo é permitido, desde que não fira o próximo, como o previsto na bíblia.

pastor gay“A igreja não diz o que a pessoa vai fazer. Acreditamos que quem define o que pode ou não é a relação dela com Deus”, disse. Sobre a formação da família, o universitário disse que a escolha cabe ao fiel. Qualquer decisão sobre a escolha do parceiro, independentemente do sexo, é respeitada. “Se a pessoa quiser ficar sozinha, nós respeitamos, se ela quiser ter um parceiro seja gay ou heterossexual, nós respeitamos. Se ela é bissexual e tem dois parceiros, uma mulher e um homem, respeitamos também”, reafirmou.

Apesar de todos os frequentadores serem gays, a igreja é aberta a todos. “Entendemos que todos são filhos de Deus. Então, não importa a raça, o credo, não importa orientação sexual, a gente vai partir do princípio que todos são aceitos, todos são bem vindos", enfatizou o estudante.

Para ele, os homossexuais já nascem com essa orientação sexual e alega não acreditar que pessoas sejam curadas. "Como não acredito em cura, acho que essas pessoas que se dizem ex-homossexuais vivem em constante conflito e negação de si. É algo que é meu. Quando dizia que não era gay e não me aceitava, vivia oprimido. Não era oprimido pela sociedade, mas por mim mesmo”, relatou.

Loyola não é um pastor porque ainda não concluiu o curso de teologia. Ele pretende se tornar reverendo, atuar como um pastor da igreja, mas para isso é necessário que os membros o elejam e, em seguida, seja ordenado. Por enquanto, ele atua como liderança e é denominado 'pastor leigo'.

Um dos membros da igreja, Matthews Galvão disse que se sentiu acolhido na igreja. “Quando frequentava outras igrejas, não me sentia bem, me sentia oprimido. Há três meses frequento a metropolitana e lá descobri um lugar onde posso ser eu mesmo. Tenho liberdade para me expressar, dialogar com todos. Acho que a igreja é muito importante para a sociedade, principalmente para aqueles que necessitam desse amparo”, disse.

No Brasil, a comunidade metropolitana está presente em 12 estados, sendo esse grupo o primeiro do estado. A igreja foi fundada em 1968 nos Estados Unidos e atualmente está em mais de 30 países. Em Cuiabá, a implantação está em fase inicial. "O processo de implantação da igreja,  começa com um grupo e depois se torna missão, que aí já tem mais cara de igreja. E depois é considerado uma igreja mesmo”, explicou César.

Por enquanto, os cultos são realizados em um local cedido e fica na Avenida Cuiabá, no bairro Cohab Nova, na região central da capital. Os encontros acontecem aos sábados.

fonte: G1

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