sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Estados Unidos: Homossexuais comemoram grande visibilidade na convenção democrata

Após anos buscando atenção e reconhecimento por parte dos partidos políticos do país, gays e lésbicas foram lançados à frente da Convenção Democrata, em Charlotte (EUA), e ocuparam um espaço proeminente no palco, nos discursos, na plataforma e nas festas que ocorrem depois da programação.

A mudança surpreendeu até os líderes homossexuais, que há apenas quatro anos tiveram frustrada sua tentativa em fazer com que o casamento de mesmo sexo fosse mencionado no horário nobre. Muitos passaram os dois primeiros anos da presidência de Barack Obama criticando o presidente por não cumprir a promessa de campanha de eliminar a proibição de homossexuais declarados nas forças armadas.

“Certamente, nunca participei de uma convenção na qual a visibilidade fosse tão significativa quanto nesta”, disse o deputado Tammy Baldwin, democrata gay de Wisconsin que está concorrendo para o Senado. “Há um incrível progresso a ser celebrado.”

Eric Marcus, autor que escreveu extensivamente sobre a história do movimento gay, disse: “Eu costumava achar que eu era audacioso em ser tão declarado quanto sou, mas agora sinto que os heterossexuais que nos apoiam avançaram muito além de mim em seu entusiasmo e em sua abertura. De fato, estão vestindo a camisa em defesa dos homossexuais como uma marca de honra. Que mundo transformado em relação à minha juventude!”.

Um dos primeiros atos dos democratas foi adotar uma plataforma de partido que, pela primeira vez, endossou o casamento de mesmo sexo. Os direitos dos homossexuais –seja o casamento, a suspensão da proibição de gays nas forças armadas ou as medidas contra a discriminação- foram mencionados em quase todos os discursos, inclusive no de Michelle Obama.

Algumas vezes, a questão foi levantada pontualmente, como quando Rahm Emanuel, prefeito de Chicago e o primeiro chefe da casa civil do presidente, falou sobre o sucesso de Obama em acabar com a proibição dos gays nas forças armadas. Mas o assunto também foi citado corriqueiramente, como quando o congressista do Colorado subiu ao palco: “Meu nome é Jared Polis”, disse ele. “Meus tataravós eram imigrantes. Eu sou judeu. Eu sou gay.”

A melhora de status dos gays se estendeu para além do centro de convenção. Não era incomum ver casais do mesmo sexo andando de mãos dadas em Tyron Street, no coração de Uptown. As festas patrocinadas por grupos de gays e lésbicas se tornaram tão desejadas quanto as patrocinadas pelo Google e pela delegação de Illinois.

“Não é possível lançar um dado no ar sem atingir algum gay em Charlotte nesta semana”, disse Craig McCartney, 54, patrocinador democrata de Dallas.

Há 12 anos, ele participou da Convenção Democrata em Los Angeles, onde considerou a presença de gays reduzida.

“A diferença agora é que não apenas estamos mais fora do armário, mas estamos mais fora do armário politicamente”, disse ele.

Em um festival de rua nesta semana, as filas para comprar camisetas da campanha de direitos humanos era tão longa que membros da equipe montaram um jogo de celebração (uma espécie de roleta) para entreter os clientes que aguardavam. (Os manifestantes diante do centro de convenções na quarta-feira (5) se concentraram mormente em condenar os elementos da plataforma relativos ao aborto, não aos direitos dos gays.)

O contraste com a Convenção Republicana na semana passada na Flórida foi impressionante. Em Tampa, não havia pessoas abertamente gays falando no palco e havia um mínimo de discussão de questões gays, apesar de haver pequenos contingentes de representantes e celebridades homossexuais em seções mais obscuras do evento. Isso dito, os representantes gays observaram que, diferentemente de convenções anteriores, não havia um coro de ataques aos direitos homossexuais por parte das pessoas no palco.

Diferentemente de outros grupos de eleitores, os homossexuais podem dizer clara e tranquilamente que suas questões serão mais bem cuidadas sob a presidência de Obama. Os democratas, contudo, estavam um pouco temerosos que o partido transmitisse uma sensação de estar celebrando os gays –e assim alienasse os eleitores que pudessem se sentir desconfortáveis com o homossexualismo e suas questões.

“É de fato uma questão de equilíbrio”, disse Glen Read, que doou fundos para a campanha de Obama e é designer de têxteis. “Se você alardear demais, pode prejudicá-lo em relação às pessoas um pouco mais conservadoras.”

Ainda assim, para os ativistas homossexuais que até agora sentiam que seu principal papel na política era o de assinar cheques, este foi um momento digno de nota.

Michelle Obama foi a principal palestrante de um almoço de políticos gays eleitos, patrocinado por grupos de direitos dos homossexuais na quarta-feira. Os convidados com lenços das cores dos arco-íris e broches com os dizeres “GLT por Obama” aplaudiram-na de pé.

E na quarta-feira à noite, o deputado Barney Frank, democrata de Massachusetts, que se casou com seu parceiro no verão, fez um dos discursos principais.

“A situação vem melhorando continuamente”, disse Frank em uma entrevista antes de seu discurso. “Estamos próximos de vencer esta luta.”

Frank, que falou pela primeira vez na convenção de 1992, sugeriu que uma marca da mudança foi que, em seu discurso na quarta-feira, o tópico não era o direito dos gays e sim o histórico de Mitt Romney como governador de Massachusetts.

Andrew Tobias, tesoureiro do Comitê Nacional Democrata, disse que a primeira vez que uma pessoa abertamente gay recebeu uma posição de proeminência em uma Convenção Democrata foi em 1992, quando Bob Hattoy, assistente da Casa Branca, subiu ao palco para discutir sua batalha contra a Aids.

Na maior parte, porém, ele disse que os palestrantes gays –ou as questões homossexuais- tinham sido relegados para fora do horário nobre da convenção, até hoje.

“Foi maravilhoso”, disse ele. “Cada ano é melhor.”

Chad Griffin, presidente da Campanha de Direitos Humanos, que apresentou a primeira dama no almoço de levantamento de fundos, considerou impressionante a forma como as questões gays tinham sido integradas tão plenamente na convenção.

“É uma diferença incrível, notável e histórica”, disse ele.

“Agora, a igualdade está integrada ao partido. Em conversa após conversa, as pessoas estão falando disso.”

fonte: UOL

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