segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Show de Ricky Martin é metáfora para saída do armário

por James Cimino

Ricky MartinQuando Ricky Martin saiu do armário no ano passado, muita gente se perguntou qual era a novidade, já que rumores e desconfianças rondavam o cantor havia muito tempo, pelo menos no chamado “mundo gay”. Além disso, ficava meio difícil causar algum impacto depois que George Michael foi preso após paquerar um policial à paisana em um banheiro público ou de Elton John ter se casado e tido um filho com seu companheiro David Furnish. No entanto, para um popstar latino, pretenso símbolo de masculinidade, assumir a homossexualidade não é apenas se livrar de um peso, mas é como se desacorrentar e sair por aí vestido com roupas de couro apertadas, delineando bem todos os músculos, em meio a guitarristas sarados e mulheres ultra sensuais.

E é exatamente assim que Martin abre seu show “Música + Alma + Sexo”, que estreou na noite dessa sexta-feira (26) no Credicard Hall e que segue para o Rio de Janeiro neste sábado (27). A apresentação começa com um pano que cobre o palco, onde são projetadas imagens do cantor preso a diversas correntes. Quando ele escapa (e o pano cai), o popstar aparece no centro de uma estrutura metálica que lembra o antigo quadro jogo da velha do “Domingão do Faustão”, cercado por bailarinos, todos trajando roupas de couro apertadíssimas ao som de “Too Late”, uma música meio dance em que ele fala sobre não ter medo de sonhar, de viver e de voar. “Não tenho medo, São Paulo!”, grita ele durante a abertura.

Ao fim da performance, as grades se desmontam e Martin se atira de costas sobre os bailarinos que o seguram, até que, na terceira música, mostra o que todos queriam ver: seu tórax definido. O público vai ao delírio.

O show tem ao todo quatro blocos. O primeiro, predominantemente dançante, Martin encerra com a romântica “Vuelve”, que todos na plateia cantam verso por verso. Ali está a alma, e o cantor grita: “Vou deixar minha alma no palco! Juro que vai acontecer!”

A cada intervalo, um depoimento de um dos integrantes de sua trupe, falando das dificuldades em vencer preconceitos de ordem sexual, racial ou social, momentos em que o público aproveita para comprar mais um copo de cerveja.

Mas a alma de Ricky Martin aparece mesmo é no segundo bloco, quando ele joga, de uma vez só, as contagiantes “Livin´ la Vida Loca”, “She Bangs” e “Shake your Bom Bom”. No terceiro bloco, vem em uma ótima versão pontuada por um acordeom a famosíssima “Maria”, tema de abertura da novela “Salsa e Merengue”. Essa é a parte do show que deveria fazer alusão ao “sexo”. Ao som de “I Am/I Don´t Care”, Martin e os bailarinos simulam sexo grupal, mas bem aquém do se espera de um show com esse nome. Impossível olhar para a cena e não lembrar que Madonna já fez pior (ou melhor) em sua primeira passagem pelo Brasil em 1993 com seu “Girlie Show”.

No quarto bloco, em que as canções falam mais de amor, quem não é fã se pergunta por que ele queimou seus principais hits no segundo bloco, mas Ricky Martin ainda consegue um fôlego com “Cup of Life”, tema da copa de 1998, em que caem bexigas verdes e amarelas sobre o público.

Em termos de conjunto, o show fica muito a dever para mega produções como Madonna, Beyoncé e U2, mas o carisma do cantor e a excelência de sua banda conseguem levantar a plateia fiel, predominantemente composta por mulheres, gays e casais. Um desses casais, inclusive, chamava a atenção. Ela, entretida com sua câmera digital, tirava fotos do ídolo sem parar. Ele, alto, malhado, barbudo, segurava a cintura da moça, enquanto cantarolava todas as músicas, com os olhos sorridentes e vidrados no cantor. Pelo jeito não é apenas Ricky Martin que saiu tardiamente do armário.

fonte: UOL

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