Emissora explica o porquê veta beijo gay em sua programação
Luis Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação, enviou carta em nome de Octávio Florisbal (diretor-geral da Rede Globo), sobre a posição da emissora em relação ao beijo gay _vetado em pelo menos três ocasiões. A longa carta é direcionada a Toni Reis, presidente da ABGLT, e serve de resposta a uma carta que Toni enviou a Octávio Florisbal quando um beijo gravado na minissérie “Clandestinos” foi cortado na edição e não foi ao ar. Em sua carta, Toni Reis lembrou, ainda, do beijo gay gravado no capítulo final da novela “América”, que também não foi exibido, surpreendendo na época até a autora Gloria Perez. Mais recentemente, a Globo cortou um beijo entre duas participantes da atual edição do Big Brother, entre Diana e Michelly. A Globo nunca tinha se explicado sobre esses cortes. Até aqui.
Na carta, a direção da Globo se defende e afirma que já exibiu beijo gay duas vezes: "no último capítulo de 'Mulheres Apaixonadas', entre duas estudantes lésbicas e em 'Meus Queridos Amigos', entre dois personagens masculinos".
Mas aqui cabem duas considerações: em “Mulheres Apaixonadas”, uma das “meninas”, a atriz Paula Picarelli, estava vestida de homem (de Romeu), substituindo o ator que faria o personagem de Shakespeare na peça do colégio. E ela beijava sua namorada (interpretada por Aline Moraes), enquanto Julieta morta. Em “Meus Queridos Amigos”, um personagem gay roubava um selinho de um amigo hétero, e esse não gostou nada da “surpresa”. Isso é: nenhuma das duas cenas que a Globo se justifica em carta como sendo beijo gay não foram propriamente beijo gay, que seria um beijo entre dois homens conscientes, em foco, como são os beijos entre o galã e mocinha em qualquer novela da emissora.
O que importa em todo o texto que a Globo escreveu é, na real, seu último parágrafo: “a teledramaturgia – diferentemente das questões éticas e sociais – não é o ambiente adequado para levantar bandeiras de comportamento moral no campo da sexualidade, baseada na individualidade. Televisão é o espaço do coletivo. Sabemos o importante papel que a transgressão e o ‘politicamente incorreto’ podem muitas vezes exercer com relação ao desenvolvimento humano e a evolução da sociedade. Obras clássicas da literatura, do cinema, do teatro e tantas outras manifestações artísticas já demonstraram isto. Porém, a (livre) sensibilidade artística é a única medida possível para “dosar” ou delinear a ousadia criativa, o que vale para toda e qualquer situação ou tema. Esse desafio torna-se ainda mais difícil quando se trata de respeitar uma audiência não-segmentada, múltipla em suas expectativas e preferências”.
Trocando em miúdos: o beijo gay não vai acontecer porque ele, na opinião sincera da direção da Globo, desrespeitaria parte de sua audiência.
No início da carta, a direção da Globo afirma que “o combate ao preconceito, à discriminação e a defesa de direitos é a causa que nos une. O reconhecimento desta entidade (da ABGLT) ao papel que a Rede Globo vem cumprindo ao longo dos anos neste sentido – por meio do jornalismo, da teledramaturgia e demais programa de entretenimento – sem dúvida nos motiva a seguir trilhando este caminho, colaborando com a discussão ampla e qualificada pela sociedade e a conseqüente, mudança de atitudes e comportamentoo.”
O comentário é justo. De fato no jornalismo da emissora, em seus programas e na teledramaturgia, nunca antes assuntos ligados aos direitos LGBTs, em especial no jornalismo, ganhou tanto destaque.
fonte: MixBrasil
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