terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Editora espanhola publica cartas de escritor gay perseguido pelo regime de Fidel Castro

Cartas a Margarita e Jorge CamachoA publicação em castelhano de "Cartas a Margarita e Jorge Camacho", de Reinaldo Arenas, presta uma homenagem ao escritor cubano que se suicidou em 7 de dezembro de 1990 em um apartamento em Nova York, vítima da aids.

Enviadas entre 1967 e 1990, as cartas --que já haviam sido lançadas na França-- só agora foram publicadas em espanhol pela editora Point de Lunettes.

Dissidente, Arenas é considerado um incômodo para muitos e voz desgarrada de Cuba. O livro contém o testemunho sobre o sofrimento que este grande escritor precisou viver, perseguido pelo regime de Fidel Castro --a quem apoiou nos primeiros momentos da Revolução--, por sua dissidência política e condição de homossexual.

Esta correspondência de Reinaldo Arenas (Holguín, Cuba, 1943) com seus amigos é um complemento de seu famoso romance autobiográfico "Antes Que Anoiteça", que foi levado depois ao cinema por Julian Schnabel, com Javier Bardem no papel do escritor cubano.

Nestas cartas é possível ver a profunda relação com os Camacho, um casal de pintores que conheceu em Havana, em 1967.

Uma amizade que se transformou no cordão umbilical do escritor com o mundo. Era para eles que seus manuscritos eram enviados, para que pudessem ser publicados e salvos do controle policial cubano.

Reinaldo Arenas, narrador, poeta, ensaísta e dramaturgo, esteve entre 1974 e 1976 na prisão, onde sofreu humilhações e maus-tratos.

Mas antes, em 1973, já havia sido preso acusado de abuso sexual contra jovens. Tentou fugir. Foi acusado de contra-revolucionário e se transformou em fugitivo. Escondido pela ilha, comendo e vivendo nos parques, foi capturado e levado outra vez à prisão.

Em 1980 ganhou liberdade e passou, primeiro, por Miami. Depois se instalou em Nova York, onde ficou até seu suicídio.

De Miami, o livro recolhe esta carta: "Querida Margarita, não sei se poderás entender minha letra, mas aqui não tenho máquina de escrever. Estou muito preocupado pelo destino dos meus manuscritos. Já sabes que para mim o único sentido da vida é ter certeza de que nada se extraviou... Temo que a Polícia cubana, que está em todos os lugares do mundo (onde vocês menos imaginam), possa fazer desaparecer minha obra. Margarita, esses papéis são meus filhos, minha própria vida...".

Uma carta que reflete a vontade do escritor de salvar sua obra, pela qual lutou e sofreu, como demonstra a emocionante e última carta do livro, escrita dias antes de sua morte, e na qual o escritor cubano se despede de seus amigos.

"Devido ao estado precário da minha saúde e a terrível depressão sentimental que sinto por não poder seguir escrevendo e lutando pela liberdade de Cuba, ponho fim a minha vida. Nos últimos anos, apesar de me sentir muito doente, pude terminar minha obra literária na qual trabalhei por quase 30 anos. Deixo como legado todos os meus terrores, mas também a esperança de que Cuba será livre... Eu já sou", escreve o autor.

No total, o volume reúne 144 cartas, que abrangem quase meia vida de Reinaldo Arenas, nas quais o autor fala de política, de suas viagens, de literatura, e de muitos escritores aos quais critica por apoiarem o regime de Fidel Castro, além de sua saúde, do vírus da aids.

Além disso, a editora Tusquets voltou a publicar seu romance autobiográfico, o mítico "Antes Que Anoiteça" (por Carmen Sigüenza).

fonte: UOL

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