sábado, 16 de janeiro de 2010

Gays muçulmanos moram nas ruas pra fugir da violência em casa

Casamento forçado é outro grande motivo

islaloveA BBC da Ásia, através do correspondente Poonam Taneja, divulgou uma matéria bastante reveladora – e triste – sobre a realidade de gays muçulmanos no Reino Unido.

Confira a matéria em português, traduzida livremente por nossa Redação. Quem preferir pode ler a matéria original no site da BBC clicando aqui.

Uma instituição de caridade britânica está enfrentando um crescente número de jovens gays muçulmanos se tornando sem-teto para fugir de casamentos forçados e da chamada violência de honra.

Durante um encontro semanal realizado pela Albert Kennedy Trust em Londres, Suni, um estudante londrino de 20 anos, se serve de um pedaço morno de torta de carne e uma xícara de café quente.

Em 2008, durante uma viagem ao Paquistão para visitar seus parentes, os pais suspeitaram da verdade sobre sua sexualidade. Eles acreditavam que o casamento poderia “curá-lo” do que eles consideram um distúrbio psicológico.

Nome sujo
“Eles me disseram que eu era obrigado a casar e que estavam procurando uma garota para eu casar de dois a três meses e não poderia voltar para Londres,” disse Suni.

Quando ele se recusou, foi preso na casa do avô em uma vila distante no Paquistão e submetido a agressões e espancamentos constantes por ter levado “vergonha” para a família tradicional muçulmana.

“Eu fiquei lá por três meses e ele sempre me espancava. Ele dizia que sujei o nome da nossa família e que era pecado. Eu sabia que era uma questão de honra.”

Suni conseguiu fugir e voltou ao Reino Unido, sem dinheiro em sem casa.

Parentes e amigos estavam relutantes em ajudar por medo da represália de sua família.

Depois de passar uma noite na cela da delegacia, ele foi colocado em contato com a instituição, que o ajudou a encontrar um abrigo seguro.

Protesto realizado em Londres contra a repressão de muçulmanos LGBT“Demônios Gays”
A voluntária Annie Southerst contou que nos últimos seis meses houve um aumento no número de muçulmanos em busca de ajuda.

“Eles enfrentam ameaças, agressões e não podem ser livres,” disse Annie.

“Há pessoas que são perseguidas pela casa com facas e já tivemos casos de jovens submetidos a exorcismo para tirar, acredito eu, os demônios gays. Eles nos procuram pois estão desabrigados, ou em risco de se tornarem sem-teto. Nós conseguimos oferecer alguma acomodação pra eles mas a grande perda que eles enfrentam é a de suas famílias. Eu não consigo imaginar como é você ter acabado de completar 20 anos e não ter mais uma família.”

Apoiada em leis introduzidas no governo em Novembro de 2008, a instituição conseguiu emitir quatro pedidos de Proteção ao Casamento Forçado nos últimos meses.

Os pedidos foram autorizados desde que o casamento forçado se tornou crime.

Mais de 80 já foram emitidos e quem desobedecer pode pegar até dois anos de prisão.

Fazal Mahmood cuida de um grupo de apoio para homens do Sul da Ásia e do Oriente Médio, chamado Himat, que significa força em Urdu.

“Eu já atendi umas 150 pessoas. Cerca de 80%… já foi coagida, forçada ou está sendo obrigada a casar,” contou.

Mahmood disse que a homossexualidade é considerada um tabu em comunidades muçulmanas conservadoras das cidades de Londres, Bradford e Manchester.

“Eu tenho orgulho de ser muçulmano, eu tenho orgulho de ser do Paquistão e tenho orgulho de ser gay. Infelizmente muitos pais não enxergam isso. Tudo que eles se preocupam é com o que a comunidade vai pensar ao descobrir que seu filho ou filha é homossexual.”

Mantendo o silêncio
Ele orienta que os jovens gays muçulmanos não se assumam para a família.

forced-marriage“No momento em que você conta para seus amigos e familiares sobre a sua sexualidade, o próximo passo será a expulsão de casa.”

Ali, de 21 anos, mora no leste de Londres com sua enorme família de Bangladesh, e decidiu manter sua sexualidade em segredo.

“Quando eles descobrirem, eles vão se virar contra mim imediatamente. Meu relacionamento com eles não será mais o mesmo, o respeito que eles tem por mim será diferente e vou sentir falta do que tínhamos,” disse Ali.

Ele também se preocupa com a repercussão na comunidade local ao descobrirem que ele é gay.

“Você vê gente sendo morta por ser gay e coisas do tipo. Eu acho que eu ficarei vulnerável se descobrirem. Já ouvi um monte de discursos onde pessoas acreditam que os homossexuais devem morrer por questões religiosas.”

Proteção policial
Uma unidade especial do governo cuida das questões de casamento forçado. Todo ano há cerca de 1.600 casos do tipo. Cerca de 75% das ligações são de pessoas com origens do Sul da Ásia.

O chefe do departamento, Olaf Henricson-Bell, revelou que adolescentes gays e lésbicas são particularmente vulneráveis.

“Há algumas semanas, um rapaz entrou em contato com a unidade para dizer que estava sendo levado ao Paquistão, forçado a casar contra sua vontade, e quando trazido de volta ao Reino Unido ele foi violentado por sua esposa e família por ser homossexual.”

“O casamento contra a vontade é uma prática clandestina e dificilmente denunciada. Os envolvidos ficam relutantes com medo de revelar a sexualidade quando entram em contato ou quando levam o caso às autoridades.”

O departamento planeja iniciar uma parceria com a instituição de caridade para desenvolver um programa para entidades LGBT que cuidam de jovens submetidos ao casamento forçado.

fonte: dolado

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