Com cinco anos de idade, o campinense V.S., 17 anos, se apaixonou por um coleguinha de escola. Desde então, ele já sabia que era homossexual. Saraivetty Close Beauty, como V.S. prefere ser chamado, se assumiu para a família recentemente, e para sua surpresa, a notícia foi muito bem recebida. O problema estava lá fora: o jovem encontrou seu maior desafio no Ensino Médio, onde sofreu preconceito de colegas e até mesmo da direção da escola pública em que estudava. Quando imaginava que só seria aceito em sua família e em boates LGBT, Saraivetty finalmente encontrou um ambiente de estudo onde pode ser ele mesmo.
Em funcionamento há exato um ano, a Escola Jovem LGBT já formou 72 jovens em todos os cursos que oferece, e outros 6,3 mil em disciplinas avulsas, palestras e apresentações. Desde a aprovação da escola pelo Ministério da Cultura, seu criador, o jornalista Deco Ribeiro, não parou de receber ligações com pedido de inscrições.
A escola surgiu a partir de um convênio entre a ONG E-Jovem, o governo do Estado de São Paulo e o Ministério da Cultura. Oferecendo cursos técnicos gratuitos e com duração de três anos, a grade curricular conta com oficinas que se dividem em três áreas, a serem desenvolvidas ao longo de três anos: Expressão Artística (Dança - ano 1, Música - ano 2 e Performance (Drag Queen) - ano 3), Expressão Cênica (Web TV - ano 1, Teatro - ano 2, Cinema - ano 3) e Expressão Gráfica (Fanzine - ano 1, Revista - ano 2 e Livro - ano 3). "O melhor da escola é conviver com meus amigos em um ambiente de aprendizado, pois a maioria eu só encontrava em festas gays. Lá, somos todos amigos e rola muita compreensão. Eu me considero sortuda por ser aceita pela minha família, os alunos da LGBT, na maioria, só conseguem ser eles mesmos depois que passam pela porta da instituição", diz Saraivetty, que participou de todos os cursos de 2010 e já se inscreveu para todas as aulas deste ano.
Além disso, a unidade também oferece cursos temporários, como aulas de defesa pessoal contra ataques homofóbicos, disciplina da qual Saraivetty tirou muito proveito: "Nunca cheguei a apanhar, mas isso porque corro bem. Já tive que fugir de dois homens que queriam me agredir com correntes de ferro. Nas aulas, aprendi a me defender", conta. O diretor da escola, Deco Ribeiro, afirma que o objetivo da organização, a primeira no Brasil e a segunda na América Latina, é justamente este: fazer com que jovens homossexuais se sintam seguros para se expressar e para colocar em pauta na sociedade a cultura LGBT.
É por isso que o outro foco da instituição é fazer circular pelo Estado de São Paulo o material produzido pelos alunos durante os cursos. Segundo Ribeiro, a ideia foi atingida com sucesso em 2010. "Produzimos um espetáculo de dança, o Stonewall, que foi um estouro. Nossos alunos também desenvolveram nove vídeos de WebTV e tivemos muito espaço na mídia, o que é ótimo para nosso projeto", diz.
E foi com esses projetos que Saraivetty decidiu o que pretende fazer depois do término do Ensino Médio, previsto para o final deste ano: "Eu participei de um curso de formação para agente de prevenção no E-Jovem, a ONG que apoia a escola, e eu gostei muito de trabalhar com saúde e ajudar os outros a prevenir coisas como DSTs. Pretendo prestar um concurso público para me tornar agente de saúde depois do colégio", diz.
fonte: Terra
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