Porta-voz da lei contra a homofobia em Itália, a deputada Anna Paola Concia sentiu-se "sozinha" quando aquela foi rejeitada no parlamento, mas promete tentar de novo, já este mês.
A razão para a rejeição "é simples", sublinhou a deputada, em entrevista à agência Lusa: "Somos um país homofóbico e a política italiana é homofóbica."
A deputada do Partido Democrático italiano, principal partido da oposição (centro-esquerda, com 119 senadores e 217 eleitos na Câmara dos Deputados), esteve em Lisboa para apadrinhar a adesão de Portugal à Rainbow Rose, rede que agrega 15 partidos socialistas europeus no combate contra a discriminação e que tem feito pressão para colocar na agenda política temas como os direitos de lésbicas, homossexuais, bissexuais e transgéneros (LGBT).
Depois de no verão se terem registado "muitos ataques contra homossexuais e transexuais" em Itália, o Partido Democrático - por iniciativa de Anna Paola Concia, a primeira deputada italiana assumidamente lésbica - apresentou uma lei contra a discriminação com base na orientação sexual, mas aquela que ficou conhecida como a "lei Concia" foi chumbada.
Na altura, Anna Paola Concia disse que tinha vergonha de pertencer ao parlamento italiano.
Sentiu-se "sozinha" e criticou os colegas por "nada fazerem" e serem "passivos". "Não perceberam como [a lei] era um sinal importante contra o racismo e a homofobia, contra o medo de se ser diferente", lamentou.
Apesar da vergonha, acredita que pode mudar as coisas a partir de dentro.
"A lei era uma grande oportunidade", mas a "maioria homofóbica" não o permitiu, disse a deputada, acreditando que "com mais trabalho" vai "conseguir aprovar a lei no próximo mês". "É inacreditável que em 2009 um dos países mais importantes do mundo, como Itália, não aprove uma lei contra a homofobia", realçou.
Apesar de descrever o seu país como "racista e homofóbico", a deputada distingue os cidadãos dos políticos.
"Em Itália, as pessoas são melhores do que os políticos", realçou, acrescentando: "É uma situação estranha, imagino que para vocês seja difícil de entender, mas em Itália há uma grande distância entre os políticos e o povo."
Atualmente, destacou a deputada, não há em Itália "nenhuma lei contra a discriminação ou sobre os direitos cívicos" de lésbicas, homossexuais, bissexuais e transgéneros.
"Não há qualquer proteção e a discriminação no trabalho é comum. Se se quiser discriminar, pode-se, porque não há uma lei que o proíba. Pode-se atacar um homossexual na rua, pode-se ser homofóbico", critica.
Anna Paola Concia falou ainda dos recentes ataques contra imigrantes na localidade de Rosarno (região da Calábria, Sul de Itália), descrevendo-os como o mais recente exemplo de "um clima" iniciado em julho, quando "a maioria [política] aprovou uma lei que diz que um clandestino é um criminoso".
"É uma lei racial, que remonta ao fascismo", acusou, admitindo que o "risco de voltar a esse tempo" existe, porque os italianos não têm "grandes anticorpos contra o fascismo".
"Somos um povo estranho, superficial, um país fechado. Vivemos alheados do mundo e achamos que podemos escapar à imigração", refletiu, contrapondo que os imigrantes "asseguram muitos dos trabalhos que os italianos se recusam a fazer".
"Estou preocupada com o meu país, com o meu povo, com a minha política. Há momentos simbólicos na vida de um país e esse [o da votação da lei contra a homofobia] era um deles", afirmou.
fonte: AthosGLS
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