Teologia inclusiva é conhecida por não discriminar a relação homoafetiva. Fiéis se reúnem aos domingos em busca da fé em Deus.
As igrejas evangélicas recebem diversas denominações. Existe a assembleia, metodista, batista, entre tantas outras. Mas uma nova vertente, a chamada Ministério Incluir em Cristo, trouxe um novo panorama para Cabo Frio, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro.
Fundada nos Estados Unidos pelo pastor Troy Perry há pelo menos 40 anos, inúmeras igrejas que seguem a teologia inclusiva estão espalhadas em mais de 40 países, principalmente ocidentais. Com o passar do tempo, diversas denominações que seguem a política da inclusão foram surgindo. A de Cabo Frio é uma delas. Foi fundada há seis meses, no bairro Itajurú, sob o comando do pastor Alexandre Costa, de 34 anos. Apesar de ter inaugurado a igreja no município, o contato com a teologia inclusiva já havia acontecido há 10 anos.
"Passei a minha adolescência na igreja metodista e presenciei a exclusão de homossexuais. Isso me fez perceber que eu também não seria aceito naquele lugar. Daí eu saí dessa igreja e conheci um pastor de uma igreja tradicional que me apresentou a teologia inclusiva. Não aceitei a nova ideia de imediato porque era tudo desconhecido, mas com base em estudos, eu notei a presença de Deus e entrei para uma igreja no Rio de Janeiro", relembra Alexandre Costa.
Por não ter nenhuma instituição religiosa na cidade que entenda o comportamento homossexual, há 10 anos os adeptos à 'nova' teologia reunia os fiéis nas chamadas células até o dia em que Deus teria revelado uma missão para os dirigentes da futura igreja. "Por duas vezes eu estava em igreja evangélica em Duque de Caxias (Baixada Fluminense) e fui surpreendido por revelações que diziam que eu iria para uma região de muitas águas e que o meu rebanho seria de pessoas diferentes, distantes do entendimento da própria pessoa que Deus usou para falar comigo. Daí eu vim para Cabo Frio para passear, me apaixonei pela cidade e decidi morar aqui, mas sem nenhuma pretenção de abrir igreja", conta o pastor auxiliar Alessandro Brittes, de 40 anos de idade.
Ricardo Souza, de 40 anos, é um dos recém frequentadores da igreja. Como os pastores, o agente de turismo sempre esteve envolvido com a religião, mas nunca se sentiu bem em uma igreja por causa do preconceito. "Eu frequento igrejas evangélicas desde quando eu era criança, e há dois meses venho aqui e fui muito bem acolhido. Cresci com outras referências bíblicas mas não tive nenhum problema para me adaptar ao novo olhar para a religião. Estou feliz aqui, é como se fossemos uma família", comentou com satisfação.
Lidando com o preconceito
Conseguir um espaço para chamar de 'casa de Deus', não uma das tarefas mais simples. Apesar da cidade ter eventos voltados para o público homossexual e reunir um grande número de pessoas todos os anos, abrir uma igreja com um olhar diferenciado das demais não foi tão simples. "Antes mesmo de ter a igreja, alguns pastores da região estiveram na Câmara Municipal para nos criticar e que usaria a inflência política para impedir o nosso trabalho. O preconceito ainda existe, as opiniões contrárias também, mas conquistamos o preconceito de outros líderes religiosos ainda que eles não concordem com a nossa visão", disse Alexandre Costa.
Mas apesar de hoje terem uma igreja que respeita o homossexual, o número de frequentadores ainda é pequeno. "As pessoas ainda têm medo de sofrer preconceito ao dizer frequenta a nossa igreja porque a homofobia no interior é maior. Por isso, muitos acompanham o nosso trabalho pelas mídias sociais, ou por telefone, além dos que vêm aqui. A média de frequentadores é de 20 pessoas, e nem todas são homossexuais", ressaltou o pastor.
Diferença para outras igrejas
Por terem base em um estudo evangélico que não aponta a discriminação, surgem as dúvidas quando o assunto é a homossexualidade. Nas demais igrejas que seguem o evangelho, a questão gay é vista como um pecado, como sugere a passagem bíblica "Com homem não te deitarás como se fosse mulher; é abominação".
Em entrevista, Alessandro Brittes afirma. "O antigo testamento mostra diversas coisas que seriam proibidas, como comer camarão, ou o fato da mulher ser isolada no período menstrual, e até mesmo a morte aos filhos rebeldes. Essas escrituras são antigas e, por isso, é preciso voltar no tempo para contextualizar e aplicar nos tempos atuais. Cristo não recrimina ninguém, pelo contrário, diz que é preciso nos entender como pessoas diferentes, sem condenação. As pessoas interpretam o texto da forma como é mais conveniente para elas", rebateu.
Com a orientação sexual fora da 'lista de pecados', o pastor Alexandre Costa reafirma a ideia de que o Ministério Incluir em Cristo segue os mesmos mandamentos de Deus e que as atitudes pecaminosas são as mesmas vistas por outras igrejas. "Não temos uma relação do que pode, ou não pode. As pessoas precisam ser conscientes do que é certo ou errado para não cometer erros. O mau caratismo, por exemplo, é um pecado. Mas como pode uma relação homossexual, com amor, respeito, fidelidade, ser um exemplo de algo ruim? Não há nada na bíblia que afirma a homoafetividade como pecado, mas a forma como as pessoas conduzem a sua vida afetiva, com promiscuidade etc", garantiu o pastor.
fonte: G1
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