por Rodrigo Bertolotto
Ainda há um temor das grandes empresas no Brasil de associarem suas marcas ao mercado LGBT. Essa é a conclusão ao ouvir especialistas e a organização da Parada Gay de São Paulo, que acontece no próximo dia 2 de junho.
Nesta edição, a parada terá como maiores patrocinadores a Caixa Econômica Federal e a Petrobras, duas estatais – a única empresa privada é a fabricante de preservativos Olla.
"Nesse ano procuramos por quarenta agências e empresas que nos disseram 'não'. Cada vez com uma justificativa diferente. Temos que cobrar uma posição dessas empresas, fazer uso político do nosso consumo, exigindo uma postura de parceria, assumindo que estão do nosso lado", disse Fernando Quaresma, presidente da entidade que organiza a Parada do Orgulho LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transsexuais).
A manifestação que parte da avenida Paulista está longe (não apenas no espaço) de suas similares de San Francisco (EUA) e Amsterdã (Holanda), que contam há anos com bancos, montadoras de carro, cervejarias e telefônicas entre seus "sponsors".
"Há muito receio e, sobretudo, falta de diálogo interno nas empresas sobre o tema. O apoio às Paradas e outros eventos da comunidade LGBT indicam isso, o que não acontece com as mesmas empresas presentes nos EUA. Em parte, a matriz das empresas com sede nos EUA tolera a omissão de suas filiais brasileiras", relata Reinaldo Bulgarelli, professor da Unicamp e FGV (Fundação Getúlio Vargas).
Ferdinando Martins, coordenador do programa USP Diversidade, concorda com essa situação. "Há receio ainda das empresas em se associarem ao público gay. Alguns anos atrás, houve o caso de uma empresa automobilística que se comprometeu a apoiar a parada, mas na hora H mudou de ideia, deu o apoio financeiro, mas pediu para isso não ser divulgado", conta Martins.
Há vários bancos que oferecem produtos voltados para o público homossexual (como crédito imobiliário para casais do mesmo sexo), mas não associam sua marca a evento da comunidade.
"As empresas que temem esse mercado estão bobeando e perdendo uma chance de crescer", afirma Samy Dana, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas. Dana usa a expressão "homosexualis economicus" para esse gay que é primeiro reconhecido como consumidor antes de conquistar direitos como cidadão.
"Reduzir cidadania a consumo é algo empobrecedor, mas cidadania sem inclusão econômica, sem que o mercado enxergue e até considere aquele segmento específico, também é empobrecedor", argumenta em outras palavras Bulgarelli.
Para o organizador da Parada Gay de São Paulo, ela sairia mesmo sem a ajuda de patrocinadores e da prefeitura de cidade, que apoiou depois que viu o potencial turístico do evento (só perde em arrecadação para o GP de Fórmula 1). "A Parada em 1997 começou pela luta de seus militantes. Fazíamos cartazes com a ajuda de sindicatos, como dos trabalhadores na construção civil e costureiras, e ocupávamos a avenida Paulista. Se hoje não tivéssemos a ajuda dos órgãos governamentais, continuaríamos sendo movimento social e ocupando a Paulista.", afirma Quaresma.
A prefeitura, com órgãos como a SPTuris e a secretaria da Participação e Parceria, ajuda na logística da Parada, afinal, 40% dos participantes são turistas, gastando uma média de R$ 1.272 em aproximadamente quatro dias de estadia na cidade.
fonte: UOL
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