por Luiz Felipe de Alencastro
A manifestação francesa deste domingo (26) contra o casamento gay ocorreu num clima de tensão. Houve, na véspera, o esfaqueamento de um soldado francês por um desconhecido no metrô parisiense.
Embora as autoridades não tenham feito ligações com o bárbaro assassinato de um soldado inglês por dois islamistas nas ruas de Londres, a imprensa sublinhou o perigo de ressurgirem na França ataques de fanáticos isolados.
A manifestação contra o casamento gay acabou em briga entre a polícia e um pequeno grupo, que iniciou um quebra-quebra. Não se trata de um ato isolado e nem foi isso que caracterizou o evento.
Há duas semanas, os festejos da vitória do PSG no campeonato francês de futebol também tumultuaram as ruas da capital francesa. De um modo geral, a crise econômica e social vem gerando enfrentamentos urbanos em várias cidades europeias, incluindo até as capitais da Suécia e da Suíça, considerados dois dos mais países pacíficos do continente.
De fato, há vários dias registram-se incidentes nas ruas de Estocolmo, e o recente desfile carnavalesco em Berna acabou em pancadaria.
Na realidade, o fator mais marcante da manifestação do domingo em Paris foi a reiteração das posições políticas de uma direita dura e renitente. Os fatos são conhecidos. Depois do voto dos meses de fevereiro e abril do Parlamento francês e do julgamento favorável do Conselho Constitucional do país, o presidente François Hollande promulgou no dia 18 de maio a lei autorizando o casamento homoafetivo.
Apesar de todos esses trâmites democráticos e legais, a oposição da direita continuou forte, provocando o ressurgimento de velhas teorias conspiratórias.
Assim, certos meios mais extremistas e mais tacanhos veem --como a direita francesa e europeia dos séculos 18 e 19-- a mão da Maçonaria por trás da campanha em favor do casamento homoafetivo.
A França é o 8° país europeu e o 14° país do mundo a adotar essa medida, e o ministro do interior, Manuel Valls, condenou a radicalização da direita, ironizando o reacionarismo dos manifestantes de domingo.
Estrela ascendente do governo Hollande, Valls observou que a manifestação se desenrolava no momento em que o Festival de Cannes premiava o filme francês "La Vie d"Adèle", do realizador franco-tunisino Abdellatif Kechiche.
Fazendo alusão ao fato de que o filme conta uma paixão entre duas jovens mulheres, Valls argumentou que uma página estava virada: "Cada um deve poder viver tranquilamente o seu amor…está fora de questão que seja posta em causa a vontade de homens ou de mulheres de se casar [entre sí]".
No campo da oposição gaullista, há setores que marcam sua inquietação com os efeitos políticos e eleitorais da radicalização da direita em torno de posições reacionárias e anticonstitucionais.
Ex-primeiro ministro da presidência de Nicolas Sarkozy, o deputado François Fillon e muitos de seus seguidores mais moderados, recusaram-se a participar da manifestação de domingo.
fonte: UOL
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