Renata vive com um rim a menos. Andréia, com tranquilizantes na mesma caixinha onde guarda os remédios que a preparam para a cirurgia de mudança de sexo. Victor tem a certeza de que o silêncio de quem não denuncia faz a violência aumentar. Os três homossexuais são personagens de uma mesma faceta da intolerância: foram vítimas de agressões motivadas por homofobia.
“Fiquei três meses muito mal, porque queria entender o motivo da violência e não achava explicação”
Quatro anos após receber um chute tão forte que causou uma hemorragia interna e o obrigou a extrair um rim, o travesti Renata Perón diz que sente pena dos jovens que o agrediram na Praça da República, Centro de São Paulo, onde homossexuais se reúnem. E afirma que restam só as sequelas físicas da perda de um órgão. As psicológicas, segundo ele, foram superadas:
- Não tenho ódio deles. Fiquei três meses muito mal, porque queria entender o motivo da violência e não achava explicação. Simplesmente por puro prazer, fizeram essa maldade - diz Renata, de 33 anos, registrada como Sérgio Carlos Pessoa.
Renata passou por uma cirurgia e precisou fechar o salão de beleza temporariamente. Hoje, faz shows em que canta e dança. Mas, sem um rim, não consegue ficar em pé por muitas horas e diz que seu corpo levou um ano para se acostumar à nova condição. Agora, aguarda que a Justiça julgue o pedido de indenização que fez ao Estado, alegando que o local onde foi agredido é conhecido ponto de ataques homofóbicos. Ganhou em primeira instância, o estado recorreu.
Pastor, professor e gay, Victor Orellana, de 39 anos, também foi agredido num ponto de encontro de homossexuais na Zona Norte de São Paulo. Estava com um amigo quando um homem de cerca de 35 anos perguntou se eram gays e começou a socá-lo. Victor procurou policiais que não deram importância ao caso e liberaram o agressor.
No caminho para casa, Victor foi atacado de novo pelo mesmo homem, dessa vez com uma pedra.
- O silêncio da sociedade faz com que mais agressões aconteçam, que o preconceito aumente - disse Victor.
Muitas vezes, os delitos ligados à homofobia são cometidos pela própria família da vítima. Foi o caso do travesti Andréia Ferraresi, 67 anos. O cabeleireiro diz ter sofrido duas agressões, a mais recente, da cunhada, em maio; outra, há cerca de dez anos, por PMs, quando esperava atendimento num hospital da corporação no Espírito Santo:
- Primeiro, ela (minha cunhada) me agrediu com uma jarra de plástico e cortou meus lábios. Depois, chegou bêbada e me bateu muito. Meu irmão já me agrediu com um cinto no rosto - disse Andréia, que denunciou a cunhada e o irmão à polícia e se prepara para uma cirurgia de mudança de sexo. - Meu irmão diz que quero ser uma coisa que não sou. Eles não me respeitam. Dizem: "Respeitar você? Por quê? Você não é gente".
fonte: Extra Online
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