Com Marisa Orth vivendo Simone de Beauvoir, peça em São Paulo não empolga
Ao ler o programa da peça “O inferno sou eu” protagonizado por Marisa Orth - musa absoluta do Festival Mix Brasil e o popular Show do Gongo – uma certeza é evidente, a peça foi feita com muito amor e é uma peça que reúne amigos. O próprio relato de Marisa no programa da peça, reverenciando sua mãe é tocante e justifica o fato da atriz ter aceitado protagonizar uma peça aonde o moralismo da sociedade vem à tona, camuflando o hino de libertação que Simone de Beavouir escreveu em defesa das mulheres.
Não é claro o que o texto de Juliana Rosenthal K. – baseado em fatos reais, porém uma ficção – quis revelar. O amor da autora pela escritora deturpou sua visão e o que vemos é um embate conservador e moralista entre duas mulheres (Seria essa a intenção da autora?): a escritora (Marisa Orth) e uma ajudante nordestina (Paula Weinfeld), estudante de letras e amante de um ajudante de obras.
Ao ressaltar que o maior desejo da escritora fosse ser uma “mulherzinha” a dramaturgia enfoca todas as mulheres presentes. Por mais que tentem, a mulher nunca conseguirá fugir do estereótipo da mulher submissa pronta a satisfazer os desejos de seu homem. A mensagem da peça ameniza as questões do universo feminino defendidos por Simone. Eu que não sou mulher, achei broxante tal constatação.
Marisa Orth defende sua personagem com propriedade, e como ótima atriz que é, conseguiu inibir a platéia que não visualizava nenhuma de suas personagens cômicas defendidas na televisão. Mas a peça não escapou da facilidade do riso frouxo e a personagem interpretada por Paula Weinfeld é forçosamente “engraçadinha” e o que vemos é um embate entre uma velha senhora e uma pós-adolescente.
A direção de José Rubens Siqueira é quase invisível, pois todo o jogo está estabelecido pela dramaturgia frouxa e sem riscos de Juliana. A bissexualidade de Simone de Beauvoir é sugerida pela troca de afeto que a escritora tem com sua ajudante. A peça é curta e não tem fôlego para realmente estabelecer um embate crível, pertinente e provocador entre as atrizes e seus argumentos.
A produção bem acabada, como ótima trilha sonora de José Rubens Siqueira, iluminação de Guilherme Bonfanti e cenário de Isay Weinfeld não evita que o tédio tome conta do público. Nem mesmo as qualidades interpretativas de Marisa salva o todo. Juliana poderia ter rasgado a cartilha do politicamente correto e ousado mais, assim como sua musa o fez.
serviço: O inferno sou eu
Até 25 de abril no Teatro Jaraguá (Rua Martins Fontes, 71 - São Paulo)
Sexta, às 21h30. Sábado às 21h. Domingo às 19h
Ingressos: sexta e domingo R$ 70, sábado R$ 80
Informações: (11) 3255-4380
fonte: Mix Brasil
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