Auxiliar de limpeza do clube Yatch, que tem noites voltadas para o público LGBT, agrediu o jornalista do iG Murilo Aguiar, primeiro com palavras, depois com socos e pontapés
Um dente quebrado e hematomas pelo rosto e pescoço. Foi esse o saldo da noite de sábado (6) para o jornalista Murilo Aguiar , 25 anos. A expectativa da turma de quatro amigos era se divertir no clube Yatch, um dos endereços mais badalados pela turma LGBT no momento, no bairro do Bexiga. E, até agora, um dos programas favoritos de Murilo, que escreve sobre Economia no iG e é um dos colunistas do blog iGual .
Murilo conta que foi acompanhado de uma amiga e dois amigos para a festa Shout, promovida por Bob Yang, Beto Cintra e Caca Ribeiro . Por volta das duas da manhã, estava na fila do banheiro unissex ao lado de sua amiga quando a funcionária responsável pela limpeza gritou com ele: “Vai logo, é sua vez!" Ele pediu calma para ela e ela se irritou: "Calma não, a fila tem que andar, eu estou trabalhando!" Ele disse que entendia o lado dela, que ele também trabalha, mas que não era preciso gritar. Nesse momento, um homem que trabalhava na limpeza do banheiro se meteu na conversa. “Ele falou que ‘é por isso que todo gay tem HIV, eles têm que ler mais a Bíblia, têm que ser mais humildes’”, lembra Murilo, que preferiu ignorar os desaforos, usar o banheiro e voltar para a pista.
Uma hora depois, no fumódromo, Murilo comentava com os amigos sobre a agressão verbal que tinha sofrido quando o funcionário passou pelo grupo. Um dos amigos que estava com ele provocou: "Que merda de trabalho, ser homofóbico e trabalhar em uma balada gay”. Irado, o auxiliar de limpeza voltou a ofender Murilo: “Ele falou da Bíblia de novo, que todo gay era esnobe e que só não dava um tiro em mim porque eu estava lá dentro", conta. "Então eu respondi: ´Calma, gata´. Ele me derrubou e começou a me espancar até que alguém que estava na festa tirou ele de cima de mim”.
Murilo afirma que tudo foi muito rápido e que logo os seguranças da casa vieram em seu auxilio. Assim que se recompôs, ele chamou a policia, que recomendou que ele fosse ao 78ºDP, nos Jardins. “Como ele quebrou meu dente e meu ombro doia muito, fui primeiro para o hospital”, conta o jornalista, que deixou para ir à delegacia no domingo (7), acompanhado do pai, e prestou queixa.
A versão dos donos da casa
Procurado pela reportagem, o empresário Facundo Guerra, sócio da Yatch e um dos donos do Grupo Vegas, que administra também o Lions Nigh Club, a casa de shows Cine Jóia e os bares VOLT e Z Carniceria, afirmou que o responsável pela agressão é um funcionário terceirizado. “Temos uma equipe fixa para todas as casas do grupo, mas quando sentimos que a demanda será maior, contratamos uma equipe terceirizada. Não sei porque ele agrediu o cliente, não tenho justificativa. A Gente está sempre do lado do cliente, porque nada justifica a agressão, e não sei se tem um fundo homofóbico ou de extremismo religioso. Assim como a gente não pergunta a orientação sexual dos funcionários, não perguntamos a orientação religiosa.”
O agressor trabalha no grupo há 4 meses e nunca fora registrada nenhuma reclamação contra ele. Facundo afirma que a prestadora de serviço será processada pela casa, e completou: “Se tivéssemos qualquer conhecimento de viés homofobico ele teria sido afastado, alguém intolerante não pode trabalhar em um local que recebe público gay como sempre recebemos.”
Para o advogado especialista em direitos humanos Dimitri Sales, que está acompanhando o caso de Murilo, essa atribuição de culpa aos prestadores de serviço é uma constante: “Contratar um serviço não exime a casa de culpa", diz ele. "Esse tipo de situação é comum nos estabelecimentos, por isso provavelmente vamos entrar com um processo na esfera administrativa referente à lei estadual 10948/2011, que coíbe a discriminação homofóbica e pune tanto o estabelecimento como a pessoa comum com advertência, multas e até suspensão do alvará de funcionamento do estabelecimento."
O processo irá correr ainda em mais duas esferas: na penal, onde o agressor será indiciado por lesão corporal e provavelmente injúria, e na esfera civil, onde tanto a casa quanto o agressor serão processados por dano moral.
Murilo se diz aliviado por não ter ficado com nenhuma sequela e por não ter acontecido nada com nenhum dos seus amigos: “Vou tomar as atitudes necessárias, é o tipo de discussão que não pode morrer. Nunca fui de ouvir esse tipo de ofensas e ficar quieto, mas nem todo mundo é assim.”
A atitude de Murilo é também reforçada por Dimitri: “Quando esse tipo de coisa acontece é preciso denunciar aos órgãos competentes, Secretaria da Justiça, delegacias especializadas. Esse ataque não pode ficar no armário, agredir um gay não é só nega-lo, é apagá-lo. A violência precisa ser sabida para que se responsabilize o poder público”, afirma o advogado.
Facundo Guerra também se diz consternado com o acontecimento: “Não tem o que falar, apenas que sinto muito.”
fonte: iGay
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