"As pessoas nos acham masoquistas. Não é isso. Somos católicos e gays. Uma é a expressão da espiritualidade. A outra, da sexualidade". Assim a psicóloga Cristiana Serra, de 39 anos, explica o porquê da criação, há sete anos, do Diversidade Católica. O grupo se prepara para receber jovens com o mesmo perfil, que virão de todo o mundo, para a Jornada Mundial da Juventude, em julho.
- Não é para fazer piquete ou pedir aceitação do Papa. Vamos conversar com jovens sobre como é ser gay dentro da Igreja - diz o professor Hugo Nogueira, de 42 anos, um dos organizadores do evento, que acontece na Unirio, no auditório Vera Janacopulos, 25 de julho, de 14h a 18h.
São pessoas com histórias parecidas com a do músico Pedro Borges, de 28 anos.
- Sempre fui católico, até que descobri minha sexualidade. Não foi tranquilo, mas tudo muda quando se vê que o padre não é um mágico, mas uma pessoa que deve orientar a fé - diz Pedro, que é voluntário da Jornada.
Não faltam relatos de jovens "feridos na alma" por um ambiente conservador.
- Um menino cortou os pulsos. Alguns documentos oficiais são de um assédio moral devastador. Como padre, vejo que a Igreja deve receber todos - diz um dos raros sacerdotes, que prefere não se identificar, a ouvir confissões de gays no Rio.
Os que fazem parte do grupo confessam seus pecados, não vêem a sexualidade como pecado, mas condição natural, e comungam.
- Hóstia não é medalha de comportamento. É símbolo da fé - defende Hugo.
O posicionamento não é consenso. Apesar de o arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, ter se manifestado a favor da acolhida das pessoas de qualquer orientação sexual, conferir sacramentos a elas é tabu.
- Cito Bento 16: o cristianismo não é um conjunto de proibições - pensa o padre.
Outro padre que estuda a sexualidade é o jesuíta Luís Corrêa Lima. Em artigos, ele aponta brechas que garantem aos gays acesso à Igreja.
"Uma carta da Cúria Romana, de 1986, afirma que nenhum ser humano é mero homo ou hétero. Ele é, acima de tudo, criatura de Deus e destinatário de Sua Graça".
Rosilene Calheiros: 49 anos, ex-freira, religiosa atuante e programadora
“Sempre fui muito religiosa, o arcebispo jantava na minha casa, conhecia todos os padres. Eu tinha 17 anos, no início da década de 1980, quando não aguentando mais procurei um padre para confessar: "estou apaixonada por uma menina". Apesar de ter me mandado orar, fazer jejum e tomar banho frio, ele me disse que eu iria para o inferno. Eu vivi lá por anos, até que encontrei um monge beneditino. Ele foi o primeiro que me disse que eu não estava no inferno, que era para eu ser como minha natureza mandava. Daí as coisas melhoraram e segui a vida religiosa. Entrei para um convento e tive sorte de a monja me aceitar, pois disse a ela logo que cheguei. Fiquei seis anos lá, até que, com medo dos votos de obediência, pedi licença e não voltei. Casei e tenho minha família e minha fé.”
fonte: Extra
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