Cerimônia em cartório de Campinas reunirá 32 noivos nesta quinta-feira. 'Quero direitos iguais aos dos heterossexuais', diz técnica de enfermagem.
O primeiro casamento comunitário entre pessoas do mesmo sexo, em Campinas (SP), terá 32 noivos, entre eles, o transexual Márcio Régis Vascon e Kátia Marins. O casal se formou há 12 anos, quando Vascon, então guarda municipal, conheceu a técnica em enfermagem durante patrulhamento em uma unidade de saúde. A união será formalizada na cerimônia coletiva marcada para as 14h desta quinta-feira (21).
"Ele me viu trabalhando durante a ronda. Depois disso, conversou com uma amiga minha, disse que gostaria de me conhecer. Nosso primeiro encontro foi em um shopping, onde conversamos em uma livraria", lembra. Há oito meses, Vascon, de 41 anos, deixou a farda e trabalha como assessor jurídico no Centro de Referência LGBT.
Embora tenha sido casada, Kátia demonstra ansiedade ao contar sobre os preparativos para a união oficial. "Meu vestido, tipo tubinho, é creme e de renda. Terei um buquê vermelho para combinar com a gravata dele", conta aos risos.
A técnica de enfermagem é mãe de dois filhos - uma jovem de 27 anos e um rapaz, de 23 - e diz que o casal aguarda pelo momento em que serão avós.
"Já temos filhos. Eles sempre foram muito tranquilos, consideram o Régis como um pai. Pensaremos nos netos", brincou Kátia. O casamento coletivo será presidido pela juíza de paz Aline Priego, no 3º Cartório de Registro Civil. Na sequência, haverá uma confraternização entre os noivos e convidados na Estação Cultura, no Centro.
Igualdade
Ao ponderar sobre o preconceito sofrido pelos homossexuais, Kátia lembra que passou por uma situação constrangedora, há quatro anos, quando o noivo foi submetido a uma cirurgia em um hospital da cidade. "Não me reconheceram como mulher dele, somente como colega. Não quero direitos a mais, quero os mesmos dos heterossexuais. Agora espero não ter mais problemas".
Se a família de Kátia apoiou a decisão dela, por outro lado Régis diz que ficou 15 anos sem falar com a mãe, após ser expulso de casa na juventude. "Tinha entre 22 e 23 anos e nunca havia trabalhado até então. Tive que aprender a viver. A reconciliação foi há cinco anos, quando afirmei que era transexual. Ela me aceitou e disse que me amava", explica.
Ao falar sobre a noiva, Régis também fez questão de lembrar o dia em que viu Kátia pela primeira vez. "Até por ser espírita, acredito que temos uma ligação de alma. Ela é a primeira pessoa com quem choro, dou risada e quero falar das minhas vitórias".
Inspirados em William e Kate
Outro noivo que participará da cerimônia é o jornalista e diretor da Escola Jovem LGBT de Campinas, Deco Ribeiro. Ele acredita que a possibilidade dos casais gays oficializarem a união nos cartórios paulistas ajudará na redução do preconceito.
"É uma realização estar ao lado da pessoa que amo. Além disso, é um direito conquistado e deve ser exercido", afirmou Ribeiro. Ele disse que usará fraque e cartola na cerimônia.
"Eu e Lohren Beauty [Chesller Moreira] estamos na correria dos preparativos. A ideia era comprar o traje igual do príncipe William no casamento com Kate Middleton, mas não encontrei", brincou. O casal planeja passar a lua de mel no Uruguai ou Argentina.
A cerimônia
A Prefeitura informou que houve 27 inscrições para a união coletiva no Centro de Referência LGBT, mas 11 casais desistiram de participar ao não quitar a taxa do cartório de R$ 340. Cada casal poderá levar dez convidados para a cerimônia e a organização da festa foi feita pelos noivos, com auxílio do centro de referência e espaço cedido pelo município.
Legislação
A norma que regulamenta o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo foi publicada pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) em dezembro do ano passado. Desde 1º de março, casais gays que quiserem oficializar a união não precisarão recorrer à Justiça.
O Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu o casamento gay em maio de 2011.
fonte: G1
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