A Academia Americana de Pediatria se posicionou pela primeira vez a favor do casamento gay e afirmou nesta quinta-feira que é do interesse dos filhos que a união entre pessoas do mesmo sexo seja legalizada. A nova política da associação diz que a aprovação ajuda a garantir direitos, benefícios e segurança a longo prazo para as crianças, apesar de reconhecer que não possibilita o acesso a benefícios federais. O apoio dos pediatras se soma agora ao já declarado pelos médicos de família, psiquiatras, psicólogos e enfermeiras.
A ideia é que a opinião da academia seja conhecida pela Justiça antes que dois casos sobre a legalidade do casamento gay sejam considerados pela Suprema Corte do país, na semana que vem, disse o presidente da instituição, Thomas McInerney.
A revisão da literatura científica da instituição começou há quatro anos. O resultado é um relatório de 10 páginas, com 60 citações - entre elas algumas pesquisas que mostram que o bem-estar de uma criança é muito mais afetado pela força das relações entre os membros da família e seus recursos sociais e econômicos do que pela orientação sexual dos pais.
“Há um consenso cada vez maior, com base na extensa revisão da literatura científica sobre o tema, que mostra que crianças que crescem em famílias chefiadas por gays ou lésbicas não estão em desvantagem em qualquer aspecto significativo em relação aos filhos de pais heterossexuais”, disse a instituição em nota. “Se a criança tem dois pais ativos e capazes que escolheram criar um vínculo permanente com o casamento civil, é do melhor interesse da criança que as instituições legais e sociais os apoiem, independentemente de sua orientação sexual”.
Para os pediatras americanos, o casamento oferece maior segurança à criança, que passa a ter seus pais cobertos por diversas leis de proteção social, que vão de descontos de impostos à autorização de viagens, e também por motivos de saúde, como o direito à acompanhante e a tomada de decisões médicas em casos de emergência. Quando o casamento não é uma opção, segundo a instituição, as crianças não devem ser privadas de acolhimento ou adoção por pais solteiros ou casais, qualquer que seja sua orientação sexual.
- Se os estudos são diferentes em forma e amostragem, mas os resultados continuam a ser parecidos, isso dá aos cientistas mais fé no resultado - disse Ellen Perrin, coautora da nova política e professora de pediatria na Universidade de Medicina de Tufts.
Outros cientistas, no entanto, disseram que o endosso da academia é prematura. Loren Marks, professora de estudos da criança e família na Universidade da Louisiana. em Baton Rouge, disse que não havia dados suficientes para apoiar a posição da instituição em relação ao casamento homossexual.
- A associação deve ser baseada em dados nacionalmente representativos. Estamos caminhando nessa direção, mas o processo ainda é lento.
Um estudo realizado no Reino Unido comparou 39 famílias chefiadas por mães lésbicas, com 74 formadas por pais heterossexuais e 60 de mulheres solteiras heterossexuais. Não foi encontrada nenhuma diferença entre os grupos em relação a envolvimento emocional, comportamentos anormais relatados por pais ou professores ou transtornos psiquiátricos em si. Mas mães e professores relataram mais problemas de comportamento entre as crianças em famílias monoparentais do que em famílias formadas por casais, qualquer que seja sua orientação sexual.
- O casamento fortalece as famílias e gera mais benefícios ao desenvolvimento da criança. E a sensação de de competência e segurança dos pais também aumenta quando eles são capazes de criar os filhos sem estigmas - disse Nanette Gartrell, principal autor do estudo e pesquisador visitante na Faculdade de Direito da Universidade da Califórnia, em Los Angeles.
A pesquisa tem limitações, segundo alguns especialistas, incluindo o tamanho das amostras, relativamente pequenas, de pais gays ou lésbicas, mesmo em estudos de longo prazo. Muitos contam com avaliações dos próprios pais, e há relativamente poucos dados sobre o bem-estar de crianças criadas por gays comparado aos dos filhos criados por lésbicas.
Ryan Timm-Young, um pai gay de 48 anos de idade, casado e pai de Zélia, 6, encontrou apoio da academia no casamento entre pessoas do mesmo sexo.
- Sempre que uma instituição formal confirma que uma família com pais gays é válida, e não há aspectos negativos que possam ser medidos ou discutidos, isso é um grande negócio, francamente - disse.
Travis Kidner, um cirurgião de 36 anos de Los Angeles, e Hernan Lopez, um executivo de meia-idade, se casaram em 2008 e tiveram a adoção de Nicolau e Zoe aprovadas.
- É importante para as crianças saberem que estão em um lar estável e que seus pais são casados - disse o médico.
A associação de pediatras tem o histórico de se posicionar em assuntos polêmicos: desencorajou famílias com filhos a terem armas em casa e pediu aos pediatras que prescrevessem, com antecedência, pílulas do dia seguinte para adolescentes.
fonte: Extra
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