Para cientistas dos Estados Unidos, orientações sexuais se devem a fatores genéticos, mas também ambientais, ainda durante a gravidez
A razão para existirem gays ou lésbicas continua a intrigar os cientistas. A suspeita, agora, está sobre a epigenética. É o que garantem pesquisadores do Instituto Nacional de Síntese Matemática e Biológica da Universidade da Califórnia, que desenvolveram a tese.
Epigenética é o conjunto de fatores que faz com que alguns genes se expressem ou não. Imagine que cada célula é uma unidade de uma fábrica de automóveis. As instruções de tudo o que é produzido na instalação ficam no mesmo computador (o núcleo da célula). Se não houvesse controle, a fábrica estaria saturada, cheio de veículos do mesmo tipo. A epigenética, de algum modo, é o conjunto de instruções que faz com que uma célula produza proteínas adequadas.
O fato de que tais orientações sexuais ocorram em praticamente todas as culturas e têm persistido ao longo do tempo, apesar das perseguições e obstáculos, levou à sugestão de que há uma causa biológica. Várias abordagens têm procurado explicações na forma e no tamanho do cérebro, mas o órgão, apesar da sua complexidade, é adaptável e sofre alterações. A questão sempre foi, portanto, se as diferenças eram causas biológicas ou ambientais.
A revolução genética da última década, e o fato de que é possível encontrar vários casos de homossexuais (gays e lésbicas) em uma mesma família, levou cientistas a acreditarem que havia uma causa genética. Estudos, porém, feitos com gêmeos que compartilham o DNA e também têm geralmente a mesma educação foram inconclusivos. De acordo com tal explicação, se um irmão era gay, seu irmão devia ser geneticamente idêntico, mas isso não aconteceu.
Uma terceira teoria fala da exposição a certos hormônios durante a gravidez. Segunda ela, os fetos (especificamente, o cérebro) do sexo masculino (cromossomos XY sexuais) expostos a menos testosterona eram gays, e que os do feminino (XX) expostos a mais testosterona tendiam a resultar em lésbicas.
A última explicação sugerida, com base na epigenética, recolhe, de alguma forma, um pouco de cada teoria. Usa a ideia de exposição do cérebro à testosterona, mas avalia a variabilidade epigenética em embriões diferentes.
Durante uma reprodução, pai e mãe passam para filho todas as instruções (olho, pé, cérebro, pênis, vagina). É a ativação correta de cada um desses fatores que determina a um óvulo fertilizado que gere um ser humano (que irá produz sangue, dedos, coração, unha). Os pesquisadores descobriram, porém, que um grupo dessas instruções, que são aqueles que regulam a resposta à testosterona, pode ser herdado.
Desta maneira, um feto masculino que herda a instrução de ser sensível à queda de testosterona pode ser tornar gay e, por outro lado, se um feto feminino herda a instrução a ser muito sensível ao excesso de testosterona, pode gerar uma lésbica. A resposta herdada, chamada pelos pesquisadores de epimarca, é o “mecanismo considerado mais plausível para explicar a homossexualidade humana", conclui Sergey Gavrilets, um dos autores da tese.
Os autores não descartam a hipótese de que outros fatores podem influenciar as epimarcas e a consequente homossexualidade. Isso deixa aberta a porta para as questões ambientais (que também alteram a epigenética) e emocionais, que explicam a variabilidade do comportamento humano e as relações (como o caso dos bissexuais).
fonte: O Globo
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