Responsável por coordenar a operação de jogos no Maracanã na Copa das Confederações para a Fifa, o ganês Anthony Bafoe é também um símbolo das campanhas da entidade contra a discriminação em competições. Precoceito que ele sofreu por ser um negro que desenvolveu sua carreira na Alemanha. Já se retirou de um jogo de futebol e bateu em um colega pelas ofensas. Agora, se mostra surpreso com o projeto de lei do Congresso brasileiro que propõe disponibilizar psicólogos para curar a homossexualidade, aprovado na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, presidida pelo deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP)
Questionado sobre o assunto. Bafoe inicialmente não entendeu o projeto. Perguntou se o deputado tratava a homossexualidade como doença. Quando entendeu que esse era o centro do projeto, ele soltou uma interjeição surpresa: "Uou". "Não sou político. O que posso dizer? Se ele acha que pode curar uma pessoa gay, ele [Marco Feliciano] tem muito trabalho para fazer", disse, ironizando o deputado.
Para Bafoe, a luta contra a homofobia tem muita relação com a luta contra o racismo. "Quando era jogador, eu não vi [jogador homossexual]. Acredito que uma liga da Alemanha, La liga [Espanha], há vários. Mas, para mim, em Bonn e Colônia [onde foi criado], nunca foi uma questão. Isso tem a ver com racismo também. Eu aceito. Cresci em um ambiente muito liberal. Falamos de racismo e homofobia", contou o ex-jogador da seleção de Gana.
Sua posição é de que, se ainda tem de se falar sobre racismo, é porque ainda há um problema. Ele participa das campanhas contra discriminação da Fifa. Na Copa das Confederações, capitães das seleções vão ler mensagens antidiscriminatórias antes das semifinais da competição. No regulamento da Fifa, há previsões de perda de mando de campo, multas financeiras e perdas de pontos por manifestações racistas de torcidas.
O objetivo é evitar episódios como os ocorridos na carreira do ex-jogador ganês, iniciada na década de 80. Em uma situação, ele bateu em um colega do time do Colônia ao ser ofendido. "Sim, aconteceu. Em Colônia, houve um racista. Eu bati nele no vestiário. Depois, o presidente e o técnico me ligaram e disseram que eu não deveria fazer isso. Ninguém vai falar da minha cor, da minha família. Essa pessoa [o outro jogador] se desculpou. Não estou dizendo que violência é a solução. Não deveria dizer um jovem a fazer o mesmo. Mas eu sabia como responder além de dar um tapa nele", contou.
Em outra ocasião, a torcida do seu time, que o idolatrava, começou a fazer barulhos de macaco quando um negro do time adversário pegava na bola. Ele chutou a bola para fora do campo, parou o jogo e pediu que fosse falado pelos auto-falantes que a torcida deveria parar. Segundo Bafoe, a torcida o ouviu e parou de fazer as provocações.
No Brasil, Bafoe é o responsável pela operação técnica do Maracanã, que inclui o acerto de segurança com os times, organização de cerimônias, e serviços em geral. Ele é contratado temporariamente pela federação durante as competições. Se houver alguma manifestação discriminatória, disse que espera o relatório do juiz para que depois a Fifa possa tomar medidas disciplinares. Uma questão é que o ex-jogador aponta que a Rússia, sede do Mundial-2018, é um dos países ainda acontecem muitos incidentes de racismo.
fonte: UOL
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