por Tony Goes
Pela primeira vez em 17 anos, a Parada do Orgulho LGBT de São Paulo teve uma protagonista absoluta. A edição de 2013 será lembrada como "o ano de Daniela Mercury".
A cantora baiana foi a grande atração do terceiro carro do desfile, patrocinado pelo governo da Bahia. Só apareceu quando o cortejo já descia a rua da Consolação: quem estava na avenida Paulista não a viu.
Mas não decepcionou. Cantou, discursou, apresentou a namorada Malu Verçosa. E tacou fogo no público, que insistia em pular apesar do frio e da chuva fina.
Foi a estreia de Daniela em eventos desse tipo, e ela já chegou arrasando. Nada mau para alguém que, há menos de dois meses, nem era associada à luta pelos direitos dos homossexuais.
A saída do armário de Daniela foi de uma simplicidade desconcertante. Ela apenas postou fotos no Instagram ao lado de sua futura esposa. Virou notícia no "Jornal Nacional", capa das principais revistas brasileiras e musa da campanha pelo casamento gay.
Também virou alvo dos homofóbicos, claro. Poucos, no entanto, ousam criticá-la por estar apaixonada por uma mulher: preferem dizer que tudo não passa de um golpe de marketing, armado para reviver uma carreira em decadência.
É verdade que, no ranking das cantoras de axé, Daniela já havia sido ultrapassada em popularidade por Ivete Sangalo e Cláudia Leitte. Mas ela foi a pioneira do gênero e, a essa altura da guerra, não precisa provar mais nada para ninguém.
Seu gesto foi espontâneo e corajoso. Duvido que ela tenha calculado as consequências: poderia ter sido rejeitada e afundado de vez. Mas deu sorte, ou talvez tenha captado instintivamente para que lado o vento sopra.
Menos sorte deram suas colegas Joelma e Ana Carolina. A primeira virou sinônimo de ignorância e preconceito depois de ter comparado os gays aos viciados em drogas.
A segunda, bissexual assumida, disse ser contra levantar bandeiras, para não colocar os gays contra os héteros. Pegou tão mal que ela foi obrigada escrever uma carta aberta dizendo que não é bem assim e que sim, apoia a causa LGBT.
Enquanto as duas buscam remendar as declarações idiotas, Daniela Mercury brilha. Foi a grande estrela da Parada, e, junto com uma entrevista de Neymar quando criança, uma das grandes atrações do "Fantástico" desse domingo (2).
O programa fez uma boa cobertura da participação da cantora no evento, não se furtando nem mesmo a exibir o beijo que ela deu na namorada.
Posso estar enganado, mas acho que foi o primeiro beijo gay exibido no horário nobre pela Globo. Não, o beijo de Tuco (Lucio Mauro Filho) em Thiago Lacerda, num recente episódio de "A Grande Família", não conta: era só uma cena de "O Beijo no Asfalto", peça clássica de Nélson Rodrigues.
As redes sociais explodiram em comentários depois do programa. Daniela rompeu um tabu, e a Globo também. E assim se escreveu mais um capítulo da história da TV brasileira.
fonte: F5
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