Estreante, Thammy Miranda ganhou espaço dentro da trama
Justamente no Dia Mundial de Luta Contra a Homofobia, 17 de maio, chega ao fim a novela global “Salve Jorge”, escrita por Gloria Perez e cheia de personagens LGBT. Críticas à veracidade da história à parte, Gloria colocou no ar travestis, lésbicas e gays e de quebra abordou ainda o tema do tráfico de pessoas trans para serem exploradas sexualmente no exterior. Só para lembrar, a mesma autora foi a mais corajosa dentro da Globo na questão beijo gay, chegando a filmar a cena (que não foi ao ar) em sua trama “América” (2005).
Muitas são as críticas à novela, principalmente sobre todo mundo falar português na Turquia e os personagens fazerem uma viagem Brasil-Turquia e vice-versa em um piscar de olhos -, mas é preciso lembrar que se trata de ficção, uma obra cheia de licença poética. Afora isso, Gloria deu uma grande contribuição à comunidade LGBT destacando o drama de travestis que são enganadas pela máfia do tráfico.
Com a promessa de terem suas cirurgias de readequação sexual financiadas gratuitamente, além de ganharem muito dinheiro com shows artísticos no exterior, personagens travestis permearam a trama com toque de humanidade. Talvez a principal delas tenha sido Anita (Maria Clara Spinelli), que é enganada por Wanda (Totia Meirelles) para ser levada à Turquia.
O elenco conta ainda com Patrícia Araújo e shows de travestis na boate turca que explora as meninas. Tudo mostrado com o tom devido de crueldade, de escravidão, levando para longe a imagem de que, se apropriando do famoso bordão, travesti é bagunça. Elas não são as vilãs da trama, são as vítimas, sofrem dramas que são – infelizmente – muito reais. Gloria poderia ter focado apenas no tráfico de mulheres, mas ousou ao levar ao ar no horário nobre global travestis sonhadoras, gente de verdade.
Impossível não destacar ainda a atuação surpreendente de Thammy Miranda, que passou boa parte da novela com seu look masculino observado também na vida real. A autora poderia ter transformado a imagem de Thammy, a policial Jo, mas não o fez, teve a coragem de colocar no ar uma mulher masculina, quebrando padrões de gênero construídos ao longo de anos.
Thammy não ficou legada ao papel de escada – aquele personagem que serve apenas para que outro, mais importante, diga suas falas, atue na história. Ela foi ganhando cada vez mais espaço e se tornou peça-chave na investigação da delegada Helô (Giovanna Antonelli) para destruir a rede de tráfico Brasil-Turquia.
Foi Thammy também a responsável por uma das mais comentadas cenas de “Salve Jorge”, quando sobe ao palco da boate turca com visual totalmente feminino para dançar a “Conga” de sua mãe na vida real, Gretchen. Quem apostava que seria uma permanente feminilização da personagem errou quando foi ao ar o capítulo da última quinta-feira, 16 de maio, e Jo estava novamente com seu visual Joãozinho conversando com Helô em um bar na Turquia.
É de se elogiar também que em momento algum Gloria Perez fugiu das críticas e discussões sobre sua história, respondendo a todos os espectadores que chegavam até ela pelo Twitter – ao contrário de outros autores, que se fazem de desentendidos e não respondem quem assiste suas tramas. Licenças poéticas à parte, “Salve Jorge” termina como a novela com maior número de personagens trans e como a trama que mais humanizou essas pessoas.
Agora é esperar a segunda-feira, 20 de maio, com a estreia de “Amor à Vida”, de Walcyr Carrasco, com nada menos do que três galãs interpretando gays (Marcelo Anthony, Thiago Fragoso e Matheus Solano), com direito a abordar paternidade homoafetiva e valores morais de um ser humano como qualquer outro.
fonte: MixBrasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário