Lutadoras e organizadores de eventos nacionais divergem sobre transexual no MMA feminino
O caso da lutadora americana Fallon Fox, que tem causado polêmica nos Estados Unidos, também tem sido acompanhado pelos brasileiros. As opiniões divergentes refletem a complexidade da situação. Para uns, a atleta transexual, que tem duas vitórias em dois combates no MMA profissional, leva vantagem ao enfrentar mulheres por ter nascido homem. Para outros, ela é do sexo feminino como qualquer outra.
O blog Mano a Mano procurou as lutadoras da Team Nogueira, Ana Maria Índia e Duda Yankovich, e os organizadores do Jungle Fight e do Bitetti Combat, Wallid Ismail e Amaury Bitetti, respectivamente, para comentar o caso.
Duda não vê nenhum problema na participação de Fallon Fox no MMA feminino e garante que enfrentaria uma lutadora transexual da mesma forma que enfrentaria atletas que já nasceram como mulheres.
“Eu não sou expert para falar sobre isso. Mas suponho que transexual é uma pessoa que nasceu como homem, mas que quis ser mulher e fez a cirurgia para virar aquilo que a natureza da pessoa é. Elas já nasceram com o sexo oposto dentro de si. É óbvio que é uma mulher. Se ela fosse travesti, talvez não seria conveniente, mas transexual não vejo problema”, – disse.
“Para mim ela não é uma transexual, é uma mulher, independente da forma que ela chegou para ser mulher. Certamente tem mulher que toma muito mais hormônio (masculino) e ninguém fala nada por ser mulher. Para virar transexual tem que tomar muitos hormônios femininos. Eu lutaria, não vejo nenhuma razão para não lutar. Com certeza existem mulheres que tomam muito mais hormônios masculinos e competem” – afirmou Yankovich.
Porém, sua companheira de equipe, Ana Maria Índia, discorda de forma veemente da aceitação de transexuais em lutas femininas pelos eventos de MMA.
“Primeiro, que não é ela. Ela é ele. O fato de ela querer ser mulher, não quer dizer que ela é. Ela é homem. Os hormônios, a caixa dela, todo o metabolismo, musculatura, é de homem. Não vai ser de mulher. É diferente. Ela já é bombada naturalmente. Não precisa tomar nada para ganhar testosterona. Isso muda a força. Não acho justo. Só porque a menina é sapatão vai lutar entre os homens?” – disparou Índia.
A lutadora, que vai disputar a seletiva do ADCC no dia 20 de abril, no Maracanãzinho, declarou que, mesmo assim, enfrentaria uma transexual, caso algum evento casasse o duelo, mas fez ressalvas.
“Eu enfrentaria. Não acho certo, mas aceitaria. Se ela estiver do outro lado, enfrento. Só não acho certo o evento aceitar porque senão quem quiser usar testosterona poderia. A produção de testosterona é diferente. Isso aumenta a explosão, a força, um monte de coisas. Se ela estiver lá, tranquilo, é o que tem. Não acho certo o evento aceitar. Então que se crie uma categoria só de transexuais” – concluiu.
A "Rainha de Espadas", como Fox é conhecida, tem luta marcada para o dia 24 de maio, pela semifinal do GP de pesos pena do Championship Fighting Alliance (CFA), contra Alliana Jones, que já declarou publicamente que aceita enfrentá-la. Entretanto, a situação ainda está sendo avaliada pela Comissão de Boxe da Flórida, que estuda a situação para saber se vai conceder a licença para que o combate aconteça.
Organizadores de eventos no Brasil também têm opiniões contrárias
Wallid Ismail, organizador do Jungle Fight, e Amaury Bitetti, que conduz o Bitetti Combat, também comentaram a situação de Fallon Fox para o blog e se posicionaram de forma diferente sobre o caso.
Para Wallid, caso aparecesse uma transexual para lutar no Jungle, ele aceitaria, mas colocaria para atuar na categoria masculina. Todavia, ressaltou que caso um médico comprovasse que o fato da atleta ter nascido homem não lhe daria vantagem contra mulheres, mudaria de ideia.
“É difícil de analisar, tenho que ver direitinho. Tem que ver geneticamente. Eu não sou médico, mas se ela tiver força de homem, tem que lutar com homem. Se os hormônios forem masculinos, tem que lutar na categoria masculina. Eu colocaria para lutar, mas, se geneticamente nasceu homem, lutaria entre os homens. Acho que todos têm que ser tratados iguais. Sou totalmente contra o preconceito, qualquer coisa. Até mesmo pela minha origem.”
“O mais importante é a atitude. Opção sexual cada um tem a sua. Se me perguntassem (se aceitaria no Jungle), se nasceu homem, com hormônio masculino, lutaria na categoria de homem. Isso no meu ponto de vista, mas eu não sou médico. Se o médico chegar e falar que tem hormônio feminino, tudo feminino, então é uma mulher, mas se vem com níveis de testosterona masculinos, sem dúvida o homem é fisicamente mais forte que a mulher” – explicou.
Wallid ainda criticou a postura de Matt Mitrione, que foi suspenso pelo UFC após ofender Fallon Fox, a quem chamou de "nojenta, sociopata e mentirosa", entre outras coisas.
“Ele não tem que ficar criticando. Quem tem que criticar é o dono do evento que a pessoa luta. Não pode lutador de outra organização criticar um lutador que não faz parte da mesma organização. Uma coisa tem que ficar bem clara: o MMA é um esporte como outro qualquer. No futebol, no vôlei, têm homossexuais, e no MMA também tem.”
“Cada um na sua. O que vale na pessoa é o caráter e a dedicação, independente da opção sexual. Aquele que trata pela cor, opção sexual, que tem um preconceito com isso, esse cara hoje em dia está por fora geral” – disse.
Já para Amaury Bitetti, Fallon Fox poderia lutar tranquilamente pela categoria feminina no Bitetti Combat. Ele ainda brincou sobre a possibilidade de uma transexual ter mais testosterona que as outras mulheres e também criticou a atitude de Mitrione, dando razão ao UFC em suspendê-lo.
“Ela quis virar mulher, então não tem problema nenhum. É até bom que ela tem mais testosterona que as outras meninas (risos). Aceitaria, sem nenhum problema. Não teve a Edinanci no judô, que falavam que era homem e mulher? Isso é normal. O cara já veio ao mundo daquele jeito. Ou vem homem ou mulher, mas às vezes tem homem que quer vir mulher. Acho que o Matt Mitrione falou demais. Dana White agiu certo. Quem fala demais, paga pela língua” – finalizou.
fonte: Terra Magazine
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