Convocada ontem pela hora do almoço, uma manifestação de repúdio à presidência do deputado Marco Feliciano (PSC) na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara lotou o auditório da Associação Brasileira de Imprensa, no Rio. O auditório comporta 600 pessoas sentadas.
Eleito no início do mês para o cargo, Feliciano enfrenta resistência de grupos que o acusam de ser homofóbico e racista. Ele nega e diz defender posições comuns a evangélicos, como ser contra união civil homossexual.
Organizado pelo deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) e pelo deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), o evento reuniu, entre outros, os cantores Caetano Veloso e Preta Gil, os atores Wagner Moura, Leandra Leal e Dira Paes e representantes de movimentos sociais e religiosos.
Caetano disse que a saída de Feliciano é importante para que o Legislativo tenha mais credibilidade: "Vários fatos levam o povo brasileiro a desprezar o Poder Legislativo. Estamos aqui reunidos para dizer que não concordamos com essa decisão absurda, mas isso significa dizer também que nós não queremos viver sem o Congresso".
"Acho muito desonesto os parlamentares do PSC dizerem que a oposição ao nome de Feliciano é uma intolerância contra a figura dele. É, portanto, muito significativa a presença de vários líderes religiosos aqui, inclusive de um pastor presbiteriano", disse o ator Wagner Moura.
O deputado Jean Wyllys afirmou que é chegada a hora de Dilma Rousseff se manifestar: "O governo sabe se meter no Legislativo quando é de seu interesse".
Mesmo com as pressões para deixar o cargo, Feliciano afirmou, por meio de sua assessoria, que a agenda da Comissão de Direitos Humanos está mantida e que ele não tem planos de renúncia.
Feliciano agendou, possivelmente para a próxima semana, uma ida à Bolívia para tratar dos torcedores corintianos presos naquele país.
Com isso, Feliciano desafiou o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que pediu uma solução para o caso até hoje. Alves havia dito que a situação de Feliciano na presidência da Comissão de Direitos Humanos era insustentável.
Em nota, a Anistia Internacional afirmou que a escolha de Feliciano para a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias é "inaceitável", por suas "posições claramente discriminatórias em relação à população negra, LGBT e mulheres".
A Anistia Internacional diz esperar que os parlamentares "reconheçam o grave equívoco cometido" e tomem medidas para substituí-lo.
Na noite desta segunda-feira, manifestantes se reúnem em frente ao Congresso Nacional em Brasília para uma vigília em protesto contra Feliciano.
'DIA D'
Nesta terça-feira (26) acaba o prazo dado pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), para que o PSC encontre uma solução para a comissão. Embora não diga publicamente, ele pressiona para que o partido convença Feliciano a renunciar.
"Do jeito que está, situação da Comissão de Direitos Humanos e Minorias se tornou insustentável, disse Alves na última quinta-feira (21).
Ontem, o presidente da Casa disse que a situação não avançou no fim de semana. "Não tive notícias."
Apesar de ter manifestado a colegas insatisfação com a permanência do pastor no comando da comissão, Alves tem dito, contudo, que não há margem regimental, como uma intervenção direta, para tirá-lo da presidência. Por isso, apelou à cúpula do partido.
Em entrevista ao programa 'Pânico', da Band, gravada na semana passada, mas levada ao ar apenas ontem, Feliciano disse que só deixaria o cargo morto.
"Estou aqui por um propósito, fui eleito por um colegiado. É um acordo partidário, acordo partidário não se quebra. Só se eu morrer", disse o pastor.
fonte: Folha
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