Em 2010, Bergoglio se opôs à lei que reconheceu casamento entre pessoas do mesmo sexo
Primeiro país da América Latina a reconhecer oficialmente o casamento entre pessoas do mesmo sexo, em 2010, a Argentina vive um paradoxo agora que a Igreja Católica passa a ser representada por Jorge Mario Bergoglio. Ao mesmo tempo em que reconhecem o avanço da legislação nacional, ativistas homossexuais do país acreditam que o Papa argentino continuará condenando o casamento gay.
Os ativistas temem que a eleição de Bergoglio faça com que países da América Latina, principalmente, deem um passo atrás em relação ao que vinha sendo discutido nas diferentes esferas de governo e da sociedade.
- Além de não trabalhar a favor dos direitos que nos devem ser assegurados, um pensamento como o do Papa Francisco ignora solenemente situações que poderiam ser evitadas, como no caso das doenças - diz Rafael Freda, presidente da Sociedade de Integração Gay e Lésbica da Argentina.
Freda lembra que, em 2010, quando o projeto envolvendo casamento gay tramitava no Congresso argentino, Bergoglio foi opositor do governo. O novo Papa também se manifestou publicamente contra a lei de identidade de gênero, aprovada ano passado. Quando era arcebispo de Buenos Aires, ele publicou uma carta em que afirmava que a relação homoafetiva feria “gravemente” os valores familiares.
Carta polêmica
Na carta, Bergoglio dizia que a medida colocava em jogo “a identidade e a sobrevivência da família: pai, mãe e filhos” e “a vida de tantas crianças que serão discriminadas de antemão, privando-se do amadurecimento humano que Deus quis que se desse com um pai e com uma mãe”. “Está em jogo o rechaço direto à lei de Deus, gravada, ademais, nos nossos corações”, continuava o documento, que destacava que o projeto de lei era um movimento “do pai da mentira que pretende confundir e enganar os filhos de Deus”.
- Esse tipo de raciocínio é o que vai ser mantido na Igreja. Enquanto isso, milhares de gays são mortos todos os anos vítimas de preconceito - alerta Freda, para quem só haveria esperança para a comunidade homossexual caso a Igreja reconhecesse, de fato, “todos como filhos de Deus”.
Em nota oficial, a Federação Argentina de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Trans também fez críticas à escolha de Bergoglio como Papa, afirmando que isso “marca uma clara vontade do Vaticano de radicalizar sua posição contrária ao reconhecimento das famílias da diversidade”.
O presidente da federação, Esteban Paulon, disse que Bergoglio sempre promoveu uma “guerra de Deus” quando questões de sexualidade pairavam sobre discussões religiosas. Segundo ele, Bergoglio teria se manifestado inicialmente a favor da união civil, o que assegurava alguns direitos, mas não ao casamento gay.
Dentro da Igreja argentina, a posição de Bergoglio não foi bem vista, mas seu posicionamento público posterior teria aparado as arestas com a cúpula eclesiástica.
Na Praça de Maio, na capital federal, o novo Papa já começou a enfrentar protestos. Na sexta-feira, a região amanheceu com pichações que levantam suspeitas justamente sobre o comportamento sexual dos religiosos. Uma delas dizia: “Fora, Igreja pedófila”.
fonte: O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário