por Rachel Duarte
Porto Alegre estará colorida no próximo domingo (25) quando acontece a 16ª edição da Parada Livre. O evento instituído na cidade para marcar as diferenças de orientação sexual se vestiu de ironia este ano para chamar a atenção da sociedade sobre a onda de moralismo e intolerância com gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais. Com o tema “Liberdade e prazer: goze estes direitos”, a parada está marcada para as 14 horas, no Parque Farroupilha, a Redenção.
> Porto Alegre realiza sua 16ª Parada Livre no dia 25 de novembro
O lema da festa que deve reunir 100 mil pessoas é “Não há vida sem liberdade e sem prazer”. A intenção, segundo Sandro Ka, da ONG Somos, uma das organizadoras do evento, é fazer o combate ao preconceito contra a população LGBT por meio de uma provocação sobre sexualidade. “Optamos por utilizar um slogan forte, que faz quase um deboche sobre a sexualidade para refletir sobre o fundamentalismo que faz com que parte da sociedade diga o que é o certo ou não para ser feito”, explica.
O duplo sentido das frases é para sensibilizar a população sobre o direito sobre o prazer, a liberdade sexual e sobre o próprio corpo. “A base de toda exclusão e preconceito é este cerceamento à liberdade sexual das pessoas. Discutir liberdade e prazer é fundamental para garantia de direitos”, fala Sandro Ka.
Além do tema do evento, outro aspecto polêmico que envolve a 16ª Parada Livre está nos bastidores. Tradicionalmente a Parada é organizada pelos movimentos sociais LGBT, porém, desde 2011 o governo gaúcho instituiu uma Coordenadoria de Diversidade Sexual. O diálogo entre governo e movimentos sociais ‘está bem difícil’, disse Sandro. Segundo ele, estão acontecendo intromissões do governo na organização do evento que não atendem a interesses coletivos. “São coisas que desqualificam o caráter original da parada e personificam o evento. Parece que a Secretaria (de Justiça e Direitos Humanos) está mais preocupada com a glamourização do evento do que com as políticas públicas”, critica.
“Estão passando por cima da organização”, critica coordenador da Nuances
As críticas são de que a Coordenadoria de Diversidade está divulgando o evento de forma paralela, com material de divulgação diferentes dos pactuados com as entidades LGBT. Segundo o coordenador da Nuances, Célio Golin, a contratação da atriz Viviane Araújo está sendo um dos pontos de divergência com o movimento. “O ano passado trouxeram a Morango (ex-BBB) e este ano a Viviane Araújo. São pessoas que não têm nada a ver com o movimento LGBT e nenhuma identificação política com a nossa causa. A organização da parada está ficando cada vez mais despolitizada”, afirma.
O coordenador de Diversidade Sexual do RS, Fábulo Nascimento, explica que a atriz fará uma participação especial no trio elétrico do governo gaúcho. “Não será no trio principal da Parada. É no nosso trio. Teremos um trio e um estande da Secretaria no evento para divulgar o programa RS Sem Homofobia”, diz. A contratação da atriz se deve pela relação de proximidade do coordenador e o cachê é pago com verba privada, garante. “Ela (Viviane Araújo) já participou de 20 paradas e foi considerada a ‘musa dos gays’. É rainha do Carnaval do Rio e foi madrinha da Parada Gay em Copacabana. Ela não é uma figura de liderança do movimento LGBT e não tem a ver com a temática da homofobia. Mas é uma pessoa da mídia que pode trazer visibilidade para o programa governamental”, fala Nascimento.
Parte das entidades organizadoras do evento discorda do coordenador estadual. “É só para dar visibilidade para a Secretaria de Direitos Humanos. Estão passando por cima da organização do evento”, reclama Célio Golin. “Isso é um deslumbramento da gestão estadual e que não responde às necessidades políticas da comunidade LGBT. Não há escuta do movimento social. A escuta é dificílima e o estado justamente deveria ouvir e subsidiar as ações produzidas e pensadas pelo movimento social e sociedade. Não interromper ou ficar omisso”, critica Sandro Ka.
As demais entidades, Liga Brasileira de Lésbicas (LBL) e Associação de Travestis e Transexuais do RS – Igualdade, preferiram não se manifestar sobre as divergências. O coordenador estadual de Diversidade Sexual afirma que as críticas não são unanimidade no movimento LGBT. “Eu recebo muita reclamação de outros movimentos sociais da capital, que dizem ser excluídos da participação na organização da Parada. Existe um monopólio dos movimentos já instituídos como organizadores. A Coordenadoria irá propor uma discussão no ano que vem para uma abertura do processo”, disse Fábulo Nascimento. E se defende: “Nós não estamos alheios às políticas públicas. Capacitamos 10 mil servidores sobre combate à homofobia e criamos a carteira social para as transexuais e travestis. Isso não pode ser desconsiderado”.
Parada Livre é identidade cultural da população LGBT
Apesar das possíveis divergências, todos parecem ser convergentes para a ideia de manter o formato da Parada Livre em Porto Alegre. “Ela tem uma constituição cultural que também é política, além de festiva. A Parada do Orgulho Gay e a Parada Livre se constituíram como fenômeno político e estético. Não é uma simples marcha com tom careta. É para quebrar ostatus quo. É para dizer para a sociedade olhar porque a diferença está nas ruas”, explica o ativista Sandro Ka.
A 16ª Parada Livre de Porto Alegre terá mais de 20 atrações e a presença de autoridades, federais, estaduais e municipais, entre elas a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário. Os shows terão início às 14h, no palco central, montado próximo ao espelho d’água. A tradicional caminhada, acompanhada de sete trios elétricos, será a partir das 17h. Ao final, os participantes da caminhada se integram aos shows musicais, performances e arte transformista, que seguem até as 22h.
Pela primeira vez em paradas LGBT no Brasil, uma travesti cerceada de liberdade será liberada da cadeia para participar do evento. Uma das apenadas do Presídio Central será acompanhada de agentes penitenciárias em um dos trios elétricos, por decisão da Secretaria Estadual de Segurança.
“As instituições da moral demonizam a parada e a imprensa geralmente retrata os aspectos negativos como se fossem a regra. Exploram o grotesco e não os discurso e ações políticas. As imagens nunca são as das famílias, que são algo normal nas paradas”, lamenta o ativista Sandro Ka.
fonte: Sul 21
Nenhum comentário:
Postar um comentário