No Equador a homossexualidade é considerada uma "doença que pode ser curada", ou ao menos isso é o que prometem clínicas ilegais que aceitam jovens, normalmente internados à força por seus pais, como afirmam autoridades e associações de gays.
Esse foi o caso de Ana (nome fictício), uma jovem de 21 anos cuja mãe a internou em uma clínica por ser lésbica, com a esperança de que os especialistas conseguissem mudar sua orientação sexual e deixasse sua namorada, Marta (nome também ficcional), de 23 anos.
Seu caso não é único. A diretora geral de saúde do Equador, Carmen Laspina, indicou à Agência Efe ter recebido denúncias de homossexuais "que foram sequestrados e levados para essas clínicas.
Uma ONG equatoriana que trabalha na defesa dos homossexuais tem anualmente 15 denúncias de pessoas que foram internadas contra vontade em algum destes centros, onde são "vítimas de maus-tratos", como tratamentos com "choque e a privação de comida e descanso", como detalhou o porta-voz, Efraín Soria.
Neste sentido, Laspina ressaltou que nestes centros às vezes são usados métodos violentos, como demonstra o caso de "uma menina lésbica que foi violada. Há relatos também de gays e travestis que tiveram cortados os cabelos e extraídos os líquidos das próteses de seus seios".
A prática violenta nestas clínicas é algo normal, mas por sorte não foi assim com Ana, quem relatou que no centro levantava sempre às 7h, limpava a casa e passava a maior parte do dia "à toa".
"Não fazíamos nenhum tratamento e o psicólogo só vinha duas vezes por semana, mas rezávamos diariamente", contou a jovem, quem acredita que teve "sorte" porque a clínica em que foi internada "era pouco séria" e não a trataram com violência.
A constituição equatoriana, aprovada em 2008, é a primeira da história do país que reconhece os direitos dos homossexuais, por isso que Laspina enfatizou que estas clínicas estão "fora da lei, dos direitos humanos e da constituição".
A diretora geral explicou que as clínicas são disfarçadas em centros de tratamentos de dependentes químicos, que para o Estado é difícil controlar porque são privados.
O Ministério acredita que o problema é maior do que reflete o número de queixas, porque normalmente "são os pais que internam os próprios filhos" e eles não querem denunciar seus progenitores, detalha Laspina.
Este é precisamente o caso de Ana. Marta conseguiu que a Promotoria ditasse medidas cautelares que impeçam sua mãe de aproximar-se dela, mas a vítima não quis denunciar a progenitora, quem poderia ser presa por sequestro.
Ana lembra com dor que, há meses, numa amanhã sua mãe deu algo "amargo para beber" e "ela perdeu parte dos sentidos".
"De repente entraram cinco pessoas na casa, dois homens e três mulheres, que me disseram que eram da Interpol", garantiu.
Comunicaram que vinham buscá-la porque tinham fotos dela e de seu namorado vendendo droga, mas Ana não tinha uma relação sentimental com nenhum homem e, sim, como uma mulher.
"Fora não houvesse nenhuma unidade da Interpol, havia um táxi e todos vestiam camisas brancas, sabia que estava sendo capturada por causa da minha orientação sexual", lembrou a jovem.
Ana foi levada para uma clínica, onde reconheceram que sua mãe a tinha internado por ser lésbica. Ali não havia nenhuma menina, as outras internas tinham problemas com as drogas e álcool.
No segundo dia, conseguiu ligar às escondidas a Marta, quem a partir de então começou uma luta em todas as instituições judiciais e depois de um mês conseguiu tirar Ana do centro.
Demorou bastante porque "a discriminação estava em todo lugar", não queriam ajudá-las por "serem lésbicas", afirmou Marta.
Laspina ressaltou que no Equador ainda é preciso trabalhar muito em todas as instituições "para que respeitem os direitos humanos" e "haja maior tolerância à diferença", inclusive dentro das famílias.
fonte: Terra
Nenhum comentário:
Postar um comentário